Tive um arremedo, indirecto, de contacto com uma associação de pais. Não fui, mas fiquei inteirado.
Numa dessas reuniões, caso discutido: a professora de educação visual tinha pedido aos alunos que levassem uma caixa de fósforos para fazer um trabalho. Os pais insurgiram-se com tal “disparate” e nisto se consumiu metade da reunião.
A recente decisão do governo de atribuir aos pais competência para avaliar professores, receio que descambe num sem fim de discussões sobre “caixas de fósforos”. Somos um país de alarves q.b. iliterados, invejosos e brutos. Os pais não estão a leste desta realidade.
O Estado, por definição, é maldoso. Mas o nosso também acumula com o “desenrascanço” dos portugueses. A Europa quer que diminua o insucesso escolar, vai daí se um professor constata que o menino se está borrifando para escola e tem de o chumbar, o professor é que tem de justificar o chumbo... de maneira a constranger o professor a passar a besta. E assim vai diminuindo o insucesso escolar.
Agora, com a introdução dos pais na escola a avaliar os professores não faltarão “avaliações” desprendidas e “isentas”, sabedores como somos das ambições e competição existentes entre alunos e o desleixo e desinteresse pela escola por outros. São inovações pedagógicas que, segundo me sopram, foram abandonadas já em Inglaterra, por exemplo, e são agora introduzidas em Portugal.
Não sou professor, nem pai com filhos no ensino básico nem no secundário. E, quando tinha, nunca interferi nas competências pedagógicas de quem quer que fosse
[ainda que tenha tido vontade. Sejamos francos: há professores maus!].Não que me desinteressasse a situação escolar dos meus filhos, mas por entender que teriam de saber-se orientar em ambientes adversos também
[não que esse fosse sempre o caso, mas existem ocasiões em que deparamos com escolhos, próprios da vida].Penso que os pais deveriam ter um papel na manutenção das instalações, na angariação de fundos para determinadas actividades, na organização dessas mesmas actividades, numa maior proximidade entre as escolas e a comunidade. A escola é, por vezes, o único local onde há possibilidade de haver convívio social e se podem organizar encontros, debates. Aí estou plenamente de acordo. Mas avaliar professores?! Não estará preparado o governo para encetar uma nova “guerra” com cheirinho a demagogia?
escrito por Carlos M. E. Lopes
2 comentário(s). Ler/reagir:
Relativamente a este tema da avaliação dos professores pelos pais, acho que, mais grave do que as discussões inúteis que os pais poderão vir a ter sobre o desempenho dos professores, serão os resultados completamente erróneos e irreais que sairão delas: o que sabem os pais (muitos deles nunca vão à escola dos filhos falar com os seus professores) do desempenho dos professores?
O mundo do crime está em polvorosa; o ministro vai convocar tudo que é malfeitor para julgar os polícias! Alguns aproveitarão para acertar contas de imediato e, munidos do "simplex", procederão à eliminação dos avaliados.
Reina a mesma euforia nos tribunais; familiares e amigos dos condenados vão avaliar os juízes! Alguns poderão até vir a ser presos...
Os trabalhadores desesperam pelo momento em que avaliarão as entidades empregadoras, no limite, vão ter os bens confiscados.
Isto tem o seu lado cómico, não fosse o trágico!
Já agora, para quando uma avaliação exemplar (só pelo voto, não!)dos políticos, com consequências a sério? (por exº estabelecer molduras penais adequadas aos actos, isto porque também há maus políticos, mesmo no activo!
JCê
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