Há muitos anos que o sector da Educação conhece uma tensão crescente. Tanto os Governos do PS como os do PSD tenderam a considerar que a forma mais expedita para reformar o sector consistiria em colocar a sociedade (pais, alunos, etc.) contra os professores para assim os fragilizar e eliminar a oposição às reformas. Quem acompanha a política portuguesa sabe que este modelo de "diabolizar para governar" nasceu no sector da Saúde e com Leonor Beleza em relação aos médicos. Mas foi na Educação e com os professores que ele se generalizou. Neste aspecto, existe uma linha de continuidade entre Maria de Lurdes Rodrigues e Nuno Crato (algo que eles negariam, claro, porque se destestam mutuamente).
Assim, a atitude afrontosa do ministério da Educação em relação aos professores, sempre com mais exigências avulsas e mal justificadas, mais trabalho burocrático e inútil, maior desvalorização da função docente, agora também com ameaças de despedimento sumário e sem indemnização, conjuga-se perfeitamente com um discurso sindical radicalizado e em oposição a qualquer mudança, por mais razoável que seja. O radicalismo de uns alimentou o radicalismo de outros, chegando a um ponto no qual a Educação é hoje um sector mais bloqueado do que outros sectores da Função Pública. Por isso o discurso de Mário Nogueira tem êxito e o ministro não foi capaz de resolver um problema simples.
A única forma de impedir o triunfo de um discurso sindical radicalizado consitiria em começar por evitar a radicalização da parte do ministério da educação. Ou seja, passaria por uma estratégia reformista diferente, aberta aos sindicatos e à sociedade, com propostas conhecidas e amplamente debatidas, acompanhadas pelo elogio continuado da função docente. Reformas noutros países demonstram que esta é a melhor estratégia. Mas o ministro Nuno Crato não o compreendeu e quis prossegir num caminho que não tem já saída.
escrito por ai.valhamedeus
0 comentário(s). Ler/reagir:
Enviar um comentário