Para não esquecer...

hoje é sábado 358. EU QUERO FODER FODER

Eu quero foder foder
achadamente
se esta revolução não me deixa
foder até morrer
é porque
não é revolução
nenhuma
a revolução
não se faz
nas praças
nem nos palácios
(essa é a revolução
dos fariseus)
a revolução
faz-se na casa de banho
da casa
da escola
do trabalho
a relação entre
as pessoas
deve ser uma troca
hoje é uma relação
de poder
(mesmo no foder)
a ceifeira ceifa
contente
ceifa nos tempos livres
(semana de 24 x 7 horas já!)
a gestora avalia
a empresa
pela casa de banho
e canta
contente
porque há alegria
no trabalho
o choro da bebé
não impede a mãe
de se vir
a galinha brinca
com a raposa
eu tenho o direito
de estar triste

[LOPES, Adília, in DO CORPO: OUTRAS HABITAÇÕES – Identidade e desejos outros em alguma poesia portuguesa, organização e apresentação AMARAL, Ana Luísa e FREITAS, Marinela, Assírio e Alvim, s/l, 2018, pág. 282-283]

escrito por Carlos M. E. Lopes

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