Para não esquecer...

ANTOLOGIA POÉTICA * 22

UMA NOITE MARINHA

Tinha guardado, para ti, um beijo, um búzio,
um amanhecer de velas e frescura,
uma embriaguez de marés amplas,
soltas, uma luz recortada nas odes clamorosas,
na lucidez, onde os lírios amanhecem,
onde as gárgulas antigas florescem, túmidas,
orvalhadas.
Ah! Como quisera voltar aos frutos verdes,
ao mar, à sede fresca, à rota da baunilha,
a orquídea, da aragem atlântica!

Também, um dia a música se esmagou,
contra um leito de pedras.
Nos rios, nas fontes, onde vinham beber
os centauros, colhi dádivas, sementes, paisagens,
que colho ainda, na transparência marinha,
onde pairam as sombras que inventam

o grão misterioso do anoitecer.


[Barroso, Maria do Sameiro. Uma Ânfora no Horizonte, Livrododia editores, 2009, p. 11]

escrito por Carlos M. E. Lopes

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