DESEJO
Quero-te ao pé de mim na hora de morrer.
Quero, ao partir, levar-te, todo suavidade,
Ó doce olhar de sonho, ó vida de um viver
Amortalhado sempre à luz duma saudade!
Quero-te junto a mim quando o meu rosto branco
Se ungir da palidez sinistra de não ser,
E quero ainda, amor, no meu supremo arranco
Sentir junto ao meu seio o teu coração bater!
Que seja a tua mão tão branda como a neve
Que feche o meu olhar numa carícia leve
Em doce perpassar de pétalas de lis…
Que seja a tua boca rubra como o sangue
Que feche a minha boca, a minha boca exangue!...
…………………………………………………………
Ah, venha a morte já que eu morrerei feliz!...
[Espanca, Florbela. Poesia Completa, Bertrand Editora, Venda Nova, 1994, pág.151]
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