Somos uma país de emigrantes. Desde sempre. No século XIX, Argentina e Brasil, sobretudo. Nos anos sessenta do séc. XX, França e Alemanha. Poucas famílias haverá que não tenham alguém que tenha emigrado. A alcunha da minha família paterna é Paisana, ao que julgo, porque um antepassado meu teria ido para a Argentina e era homem do campo, daí paisana. O meu avô materno foi para França em 1926. Nos anos sessenta, julga-se que cerca de um milhão teriam saído de Portugal. Sem educação, analfabetos, ajudaram à reconstrução da Europa do pós-guerra. Nos arrabaldes de Paris, em Saint Dennis, viviam em bidons de petróleo. As famosas bidonvilles. As remessas dos emigrantes, diga-se, as divisas que para cá enviavam, constituíam uma lufada de ar fresco para o regime e para o equilíbrio das trocas com o estrangeiro.
A nossa emigração era pobre, sem educação e a ela calhavam os trabalhos que não requeriam qualquer tipo de formação. Trolhas e trabalhadores no campo. Um dia, em Perpignan, encontrei uma homem que já estava há mais de trinta anos em França. Perguntei-lhe “então o amigo sabe bem francês…”. “Não muito, respondeu-me ele, pois trabalho no campo e só me dou com portugueses e espanhóis…”.
Os emigrantes viviam em guetos, isolados, conviviam entre eles. E hoje ainda, penso eu, em especial os da primeira geração. Esta falta de integração era manifesta. E os de segunda e terceira geração, muitos, estão divididos entre dois mundos: o da origem dos pais e/ou avós e o do país onde nasceram.
Com a queda dos regimes de Leste, e a falta de mão de obra em Portugal, verificou-se um movimento de imigração. Mas estes emigrantes de Leste, ao contrário dos emigrantes que “exportámos”, tinham mais formação. Havia pessoal com escolaridade média e superior. Conheci engenheiros e professores na vindima, nas obras, nas laranjas.
Hoje, para o campo, vemos chegar imigrantes do Bangladesh e Nepal, sobretudo. Além de muitos refugiados de África e Médio Oriente. A fome, a sede, as guerras fazem estas pessoas procurar onde possam sobreviver. Já não digo viver.
E agora, meus senhores, um país que, nos anos sessenta viu debandar mais de dez por cento da população, eis que se torna violentamente contra os imigrantes, esquecendo-se o que foram.
As manifestações de intolerância e discriminação são abjetas.
Eu não digo que não haja choques culturais, mas tenham vergonha! A choldra anda por aí.
escrito por Carlos M. E. Lopes
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