Dois poetas do amor, da sedução do erotismo. David Mourão Ferreira e Maria Teresa Horta.
TERNURA
Desvio dos teus ombros o lençol,[David Mourão-Ferreira]
Que é feito de ternura amarrotada,
Da frescura que vem depois do Sol,
Quando depois do Sol não vem mais nada…
Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
Como vultos perdidos na cidade
Onde uma tempestade sobreveio…
Começas a vestir-te, lentamente,
E é ternura também que vou vestindo,
Para enfrentar lá fora aquela gente
Que da nossa ternura anda sorrindo…
Mas ninguém sonha a pressa com que nós
A despimos assim que estamos sós!
DESORDEM[Maria Teresa Horta]
Olho a desordem
Da cama tão desfeita
O suor na camisa
O esperma no lençol
O gemido no ar a desfazer-se ainda
E por vezes de bruços
Desavinda
Na penumbra do quarto
Uma réstia de sol
escrito por Carlos M. E. Lopes
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