Para não esquecer...

ÚLTIMA ESTAÇÃO

De que lado vem a tempestade
quando as folhas dos ulmeiros
se desprendem dos seus ramos velhos
e o escorpião do medo se
acolhe em segredo ao
que ficar da luz de setembro
para prolongar
a sede
(p. 99)

escrito por Carlos M. E. Lopes

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HOTEL SAVOY

Joseph Roth
Hotel Savoy
Alfragide: Dom Quixote, 2ª ed., 2024, 156 pp.

Já tinha lido a Marcha de Radetzky, em 2018, e o autor voltou a fascinar-me.

Passado no rescaldo da I Grande Guerra, 1914-1918, julgo que na Polónia, no Hotel Savoy cruzam-se soldados que voltam da frente, muitos judeus a que o autor pertencia. No hotel cruzam-se pobres e ricos; estes, nos primeiros andares e os pobres, nos últimos. Muita pobreza e alguma riqueza. Imaginamos aquele vaivém de gente à procura de refazer a vida. 
 
Um mestre, este Joseph Roth! Alcoólico, morreu aos 44 anos, teve uma vida difícil. A sua experiência a viver em hotéis foi grande. 
 
Vale a pena ler.

escrito por Carlos M. E. Lopes

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curtas 43. COFUNDAM-SE!

PS, PCP, VERDES, BE, LIVRE, PAN!
Cofundam-se!

(Mas salvem a Festa do Avante!)

escrito por Carlos M. E. Lopes

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PORQUE HOJE É DOMINGO... * 6


O usufruto dos prazeres da água [dos banhos romanos] chegou a converter-se numa marca de identidade da cultura pagã e da civilização de Roma, até ao ponto de os cristãos mais estritos abominarem as termas como sintoma de volúpia, de sensualidade e de corrupção espiritual. 

Ainda se conserva a carta de um monge camponês do século V que afirmava: «Não nos queremos lavar nos banhos.» Os homens santos entenderam o fedor como uma medida de devoção ascética.Recusavam a limpeza para expressarem a sua oposição ao estilo de vida dos romanos.

Simeão, o Estilita, negava-se a deixar que a água lhe tocasse e «o fedor era tão potente e hediondo que era impossível subir nem que fosse até meio das escadas sem incómodo; alguns dos discípulos que se obrigavam a chegar até ele só podiam subir depois de terem untado no nariz incenso e unguentos fragrantes». Após passar dois anos numa gruta, São Teodoro de Estudita surgiu «com um fedor tal que ninguém suportava estar perto dele». Clemente de Alexandria escreveu que o bom gnóstico cristão não quer cheirar bem: «Repudia os prazeres espetaculares e os restantes requintes do luxo, como os perfumes que agradam o sentido do olfato ou as atrações dos diversos vinhos que seduzem o paladar ou as grinaldas fragrantes feitas com diferentes flores que enfraquecem a alma através dos sentidos.» 

Naquela altura, o «cheiro de santidade» era fétido.

[Irene Vallejo. O Infinito num junco]

escrito por ai.valhamedeus

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curtas 42. PAÍS INSEGURO

Ventura diz que não vivemos num país seguro. 

É verdade! Com tanto Chega, quem pode garantir que está num país seguro?

escrito por Carlos M. E. Lopes

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NA CABEÇA DE VENTURA

Vítor Matos
Na cabeça de Ventura
Lisboa: Zigurate, 2024, 188 pp.

“Quis ser padre e escritor. Ganhou notoriedade como comentador de futebol. Mas foi a descoberta de que havia mercado eleitoral para o discurso xenófobo que lhe proporcionou uma ascensão meteórica na política portuguesa”. A capa tem este resumo da vida pública de André Ventura. É, dos três livros sobre os líderes que se presume mais votados, o que mais vende, certamente. Todos nós queremos saber alguma coisa desta personagem.

Tendo lido o livro, fiquei com a ideia de que Ventura, apesar das boutades, é moderado. Pode parecer estranho. As interpretações religiosas dele deixam muito a desejar; as ideias, em geral, são repulsivas; mas ele explora um nicho de mercado que lhe deu notoriedade e apoio popular. Coisa diferente é o núcleo duro da sua entourage. Não surpreenderá que a criatura engula o seu criador. No seio do Chega há de facto fascistas, do piorio.

Ventura vai dizendo o que a maioria silenciosa quer ouvir. “Enquanto cresce, à medida que constrói caminho, com a subida exponencial nas sondagens, ganha ainda mais confiança. Mas uma coisa são as perceções; outra, as realidades: e André Ventura sabe ler e interpretar o que as pessoas querem ouvir, sabe alimentar essas perceções, e vai-se alimentado ele próprio delas” (p. 146). 
 
João Pereira Coutinho diz “Fez uma espécie de prospeção para saber qual seria o seu nicho e viu perfeitamente que faltava um partido populista de direita, tal como acontece nos outros países da Europa, e é mais um caso de oportunidade que de grande convicção ideológica. Oportunidade e oportunismo, claro” (p. 178).

Ventura copiou os grandes temas na Europa: refugiados, migrantes, minorias, religião, teoria da substituição e verbaliza-os, mesmo que nenhum desses temas sejam hoje problema em Portugal.

Mon chapeau!

escrito por Carlos M. E. Lopes

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NA CABEÇA DE PEDRO NUNO



Ana Sá Lopes
Na cabeça de Pedro Nuno
Lisboa: Zigurate, 2024, 159 pp.
 
Ana Sá Lopes traça o perfil de Pedro Nuno Santos, o secretário-geral do PS, mas há pouco a dizer. 

Definindo-se como fazedor, esteve pouco tempo no governo, mas esteve ligado a episódios, pouco claros, na TAP, embora reivindique resultados positivos na transportadora aérea, coisa que parece verdade. Anunciou a solução do problema do aeroporto, mas teve de retirar de imediato a medida, a mando do primeiro-ministro. 
 
Keynesiano, aposta no investimento público. Estudioso, rico, com avô sapateiro, tem carisma e a ele se deve, em grande parte, a constituição da geringonça. Mas o seu percurso também se fez com alianças com o PSD.

Defensor do casamento gay, sempre com posições de grande frontalidade, orador empolgante, chegando mesmo a ofuscar Costa, Pedro Nuno tem feito um percurso seguro e é, neste momento, de longe, o maior trunfo do PS. 

Pedro Nuno defende a União Política da Europa (para esquerdista, como lhe chama a direita, não está mal), a partir do Parlamento Europeu, e isto “porque todos os cidadão europeus perceberam que a Europa não se constrói em Bruxelas ou Estrasburgo, mas sim entre Berlim e Paris.” (pág. 85). 
 
Estejamos atentos a este furacão!

escrito por Carlos M. E. Lopes

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NA CABEÇA DE MONTENEGRO


Miguel Santos Carrapatoso
Na cabeça de Montenegro
Lisboa: Zigurate, 2024, 199 pp.
 
A história de Montenegro é um conjunto clamoroso de derrotas, copiosas derrotas. Desde sempre e em todo o lado. Mas é estoico. E, embora tenha o carisma de um calhau, nada o impede de vir a ser primeiro-ministro. Já vimos situações parecidas e opostas. Fernando Gomes, quando se recandidatou à Câmara do Porto, fanfarrão, foi derrotado por um Rui Rio sem chama. Nada impede que com Montenegro se passe o mesmo.

Dos dois partidos do “arco do poder”, o PSD é o que apresenta maiores dificuldades de se distinguir das suas sombras: Chega e IL. No caso de Montenegro, acresça-se Marcelo Rebelo de Sousa. Ambos lhe roubam eleitorado e lhe pisam áreas programáticas. Embora sem descurar a intervenção do Estado, Montenegro tem tido dificuldade em se demarcar e em dizer se afasta o Chega da área do poder, quando tudo indica que, sem IL e Chega, não poderá governar, a não ser que o Bloco Central se constitua no terreno.

No seu afã de se demarcar da IL e Chega – aquele com consistência programática e este, um manta de retalhos de slogans sonoros – daí que “Não assustar ninguém para convencer quase todos. Esquecer a ideia de «reformas estruturais», necessariamente temidas porque inevitavelmente disruptivas, fugir do espantalho da direita neoliberal e exorcizar o papão da direita reacionária e xenófoba. E, para isso, apresentar-se como uma versão melhorada de António Costa, a competência na continuidade, um projeto de renovação indolor.”(p. 146).

escrito por Carlos M. E. Lopes

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