(coisa de putos).
(José Afonso),
escrito por Carlos M. E. Lopes LEIA O RESTANTE >>
(coisa de putos).
(José Afonso),
[procure-as na barra lateral à direita, na secção A Sua Rádio]:Cantigas do Maio, Milho Verde, Maio Maduro Maio e Coro da Primavera.
[os mais velhinhos hão-de lembrar-se. Os mais novos haveriam de conhecer: um dia destes, explico-lhes porquê],do Fausto, do Carlos Paredes
[8 cedês],dos Madredeus, do Luís Represas... à mistura com os fadistas mais misturados: Amália Rodrigues
[bué de discos],Mariza, Ana Moura, Carlos do Carmo, Camané, António Pinto Basto, António Mourão
[é! esse mesmo!],etc., etc.. Entre estes e os anteriores, bué de discos dos Gaiteiros de Lisboa. E a cantora da mala de cartão
[essa mesma, a Linda de Suza!].Mais a Teresa Tarouca. Mais a Maria João do jazz
[por pouco acertava na Maria João Pires].O conjunto Maria Albertina, ao lado
[ou por cima ou por baixo]dos Excesso. 11 álbuns dos SantaMaria por baixo do Nuno da Câmara Pereira, etc., etc.
[quero dizer, fico-me por aqui que já nem eu sei onde estou e estou convencido de que ninguém já tem vontade de sequer saber onde fica esse tal Portugal Albums. Valha-nos Deus, que até o Quim Barreiros lá está!... E até a Mónica Sintra, carago!...].escrito por ai.valhamedeus
Para dar música ao lançamento da biografia do grupo, o Quarteto 1111 voltou a reunir-se, 40 anos após a sua estreia discográfica.
Fico a saber, pela imprensa, que A Lenda d'El Rei D. Sebastião foi a canção mais celebrada no retorno do grupo. E talvez com razão. Escreveu António A. Duarte
[25 anos de rock'n Portugal. [sl]: Bertrand, 1984]que a ruptura com determinadas letras de canções estereotipadas
[comuns tanto em Portugal como nos Estados Unidos]foi operada com o Quarteto e a canção referida, que alargou os horizontes do rock português dessa altura e foi
"o princípio de muita coisa para o rock em português" (p. 36),designadamente, o despontar da
"luta pela qualidade e pela dignidade de uma certa pop-rock de expressão nacional" (p. 68).
"Quatro 'uns' subversivos e 'perigosos' para o regime".Um perigo adivinhado na cópia da "carta" da DGI à Valentim de Carvalho, que se reproduz ao lado
[clicar na imagem, para ler]:dos textos submetidos à censura
[que entretanto aprenderia o LP],só a um não há nada a opor, sendo que, à excepção de um outro que é censurado nas 5ª e última quadras, todos os restantes
[em que se incluía a conhecida "Trovas do vento que passa"]têm divulgação proibida. O que é significativo, mesmo considerando que a censura com alguma facilidade se atirava a monstros que não passavam de moinhos de vento
[o "pano de fundo da Lenda de Nambuangongo, por exemplo, era tema tabu: o colonialismo].Evoco, pois,
Adriano Correia de Oliveira morreu, faz hoje 25 anos. Viva o Adriano
[viva a música do Adriano]!escrito por ai.valhamedeus LEIA O RESTANTE >>
O Avante de hoje integra um suplemento de 4 páginas sobre a vida de Adriano Correia de Oliveira e é acompanhado por um cd com algumas das mais belas canções do cantor, falecido há 25 anos
[cumpridos no próximo dia 16].Querendo aproveitar o pretexto para recordar Adriano, é-me difícil escolher uma ou duas das 18 faixas, para reproduzir aqui. "Trova do vento que passa" é seguramente uma trova emblemática
[nos tempos idos ante-25 de Abril e nos tempos-socráticos ainda não idos].Mas qualquer canção popular açoreana
[Sapateia, Lira -- ai! esta "Lira!" --, O sol préguntou à lua]me agrada o suficiente para justificar escolhê-la. E porquê não lembrar
[com, por exemplo, Menina dos olhos tristes]os sentimentos que atormentavam os jovens que com os 18 anos viam chegar o espectro da guerra? Ou propor reflexão sobre temas como a emigração
[com Cantar de emigração, sobre poema da galega Rosalia de Castro]?Ou reler a poesia de António Gedeão
[em Lágrima de preta ou Fala do Homem nascido]?...Bem... vou decidir-me por
[o frio, então, do medo. Do medo do sistema].
Adriano Correia de Oliveira vai ser homenageado no disco
Cantaremos Adrianoque assinala os 25 anos da sua morte.
(Alexandre Pinto – Percussões, João Queiroz – viola acústica e voz, Jorge Jordan - Voz, Nuno Faria – Contrabaixo, Paulo Cavaco - Piano e acordeão, Rui Sousa – Viola acústica e guitarra portuguesa e Vitor Sarmento – Viola acústica e voz),o álbum é composto por 12 temas do músico, com novos arranjos de Paulo Cavaco. O colectivo vai estar na sala de teatro da Academia de Santo Amaro, em Alcântara, para dois concertos nos dias 12 e 13 de Outubro.
Agradeço ao Carlos Lopes
[a quem invejo o privilégio da proximidade que teve com o Zeca]a recordação desse mestre combatente da música portuguesa.
Fez 20 anos que morreu José Afonso.
José Afonso é daquelas pessoas que têm vários facetas e têm amigos para cada uma das suas facetas. O revolucionário, o lírico, o cantor, o professor. Se a maioria do grande público, já entradote, se lembra dos Vampiros, outros há para quem o Canto Moço é uma referência de liberdade, de juventude e despreocupação.
As primeiras referências que tenho de José Afonso é no Liceu e dos Vampiros. Era um valor absoluto. Levei alguns tempos a ouvir falar da canção, sem a ter ouvido. Até que a ouvi na Rádio de Argel com Manuel Alegre, com muitas interferências e de forma quase inaudível.
Já perto do 25 de Abril conheci o filho José Manuel, com quem privei. A filha mais velha, a Lena, poucas vezes a vi, com a Joana briguei, o Pedro mal o conheci
(era muito novo e só o via às cavalitas do pai nas areias da Praia da Fuseta).Ao José Afonso, encontrava-o no barco do Fortunato na ida e volta da Ilha da Fuseta. Sempre com um livro na mão, cabelo encaracolado, toalha ao ombro, óculos de maça pretos, olhar distraído. Tinha uma tenda na Ilha onde raramente pernoitava. Eu, muitas vezes, fiz dela a minha casa. Tenho a ideia de uma pessoa com um feitio difícil, desprendido das coisas materiais ou, melhor dizendo, como me disse um dia Manuel Alegre, um franciscano. Sempre o achei uma pessoa seca e ríspida, mas não posso negar que sempre me fascinou e que continuo a ouvi-lo com prazer. Emociono-me sempre.
O seu a seu dono: a ideia não é minha
[colhi-a do blogue Milinkito],mas está bem esgalhada: são versões
[pouco "clássicas", mas todas diferentemente interessantes]da conhecidíssima abertura da ópera Guilherme Tell, de Rossini, retiradas do também conhecidíssimo Youtube.
[e, se quiser a versãao clássica, peça-a, que nós colocamo-la aqui]!
Nas listas que classificam os diversos "povos", Portugal está habitualmente nos últimos lugares
[excepto nas listas que listam o que nenhum "povo" gostava de ser/ter].Não é sempre assim, no entanto. Na música, por exemplo, não é sempre assim. Temos casos
[raros? seja!]em que Portugal se situa nos lugares de destaque. É o caso de José António Carlos de Seixas (1704-1742). O seu Concerto para cravo faz as delícias de qualquer ouvido
[mesmo as daqueles que, como os meus, não se inclinam particularmente para o som do cravo].Um concerto que tem só um "defeito": é demasiado breve. Pouco mais de 6 minutos sabem sempre a pouco. A muito pouco.
Do Le Monde de hoje, uma crónica cultural de Francis Marmande. Transcrevo-a em francês, como no original:
Cristina Branco, l’amour matelotescrito por ai.valhamedeus LEIA O RESTANTE >>
La voix stricte, tendue, la pure voix du fado s’appelle Cristina Branco. Jeune femme, cheveux noirs, mère aux airs d’adolescente qui saurait, elle est d’une beauté qui prévient sa voix. A chaque océan, son chant d’amour, de misère, et de matelots qui fichent le camp : le blues au bord du Mississippi, la saudade au Brésil, au sud du Sud le cante jondo (chant profond du flamenco) : et là où finissent les terres, au Portugal, on le nomme le fado. Affaire atlantique. Un philosophe ancien a eu beau avertir : « En ce monde, on dénombre les hommes, les femmes, et ceux qui vont sur la mer », l’humanité ne s’y est jamais faite. Pourquoi tant de femmes à relancer ce cri ?
Du haut de sa petite taille aux longs cheveux noirs, Cristina Branco, visage révulsé vers les cintres, yeux clos, bouche balayée par le phare du rire, tient le haut du fado. Comme Piaf ou Rollins, la scène la grandit à l’extrême. Qu’elle se juche sur ses hauts talons qu’on ne voit même pas sous l’immense robe de femme toujours en deuil ou qu’elle les jette au rappel, elle a cette stature qu’elle n’a pourtant pas. Son récital monte en crise, sans que jamais pointe l’hystérie où se perdent les larmes. A la fin, comme un adieu, elle chante rituellement l’amour matelot, l’amour des hommes qui n’en finissent pas de partir (Meu amor é marinheiro).
Jeu de scène réduit à l’essentiel : elle empoigne le micro, sourit ou pleure aux étoiles, glisse de la guitare portugaise au piano et du piano à la guitare basse comme pour inciter ces hommes simples qui ne la ramènent pas. Tiens, un pas de danse, ou bien une onde des bras nus. Tout se bande dans les bras, dans la voix, dans la colonne d’air verticale, le timbre coloré aux harmoniques étranges, graves et sopranos à la fois. Elle se porte à hauteur de drame de ces chanteuses folles, dans les montagnes, qui insultaient aux morts. Soudain sort du bois une fable guillerette qu’eût pu chanter Greco (Sete pedaços de vento). Un vieux tango pointe son nez sous les voiles (Agua e mel), puis un samba venu d’ailleurs (Formiga bossa
nova).
Le fado la chante plus qu’elle ne le chante et se met à chanter deux fois : la première quand ça déclenche, quand l’esprit supérieur s’empare de la voix, la seconde, au rappel (centième minute). Elle chante les poètes, la tête prolonge les cheveux qui tombent des nuages, elle chante Maria, Lisbonne, sa voix de détresse. Un album, un film en témoignent (Cristina Branco : Live). Ce qui ne suffit pas à la présence. Cristina Branco est la dernière imprécatrice douloureuse de présence, de présence en scène, la voix nue.
Au Bataclan, l’autre soir (le 9 janvier), portée par un auditoire qui provoque le chant qu’elle déclenche seule, sans recours de promo, de gogos, de bobos, elle sort de ses gonds au moment voulu. C’est d’un autre ordre. Il n’a pas manqué de se produire un événement vital sans importance. Au 8e rappel qui n’avait rien de ces rappels qu’exige un public puérilement avide de son bonus, elle attaque une chose terrible, un fado de fierté et d’amour creusé dans le silence du cri. Et là, du parterre, entre deux phrases terribles, jaillit soudain l’effrayante corne de brume d’un cargo en perdition : un spectateur se mouchait. Trompe de Jericho glaireuse, trompette marine si la trompette marine n’était un instrument à corde unique, terrifiant boucan de mouchoir, de souffle, de forge, flatulence barine. Le tout, le plus naturellement du monde.
On peut le voir comme un bruit incongru dans la cérémonie, un aboiement de chien dans le temple, Grock au funérarium. Non : c’était l’hommage impossible du vice à la vertu, des trivialités actuelles à l’exigence antique, de la médiocrité à la grâce, la dernière chance.