Para não esquecer...

AS DEBILOIDICES DE EPC

Não sou leitor assíduo de Eduardo Prado Coelho (EPC). Leio-o apenas (muito raramente) quando algum amigo me chama a atenção (sempre por más razões) para algum dos seus textos. Li-lhe um dia destes um em que desenvolvia a tese de que o povo português era mau. Argumentava ele (falaciosamente) que, se o povo português dizia mal de todos os governantes (José Sócrates incluído), é porque o mal não está nos governantes mas no povo que deles diz mal. Qualquer aluno medíocre topa facilmente a falácia: basta que efectivamente os políticos possam ser todos maus (e podem, José Sócrates incluído) para a conclusão ser ilícita.

Agora (na edição do Público de 23 de Novembro) foi a vez de EPC dizer disparates sobre as aulas de substituição. Do texto, dou de barato (ou mesmo de borla) as partes em que EPC claramente é a voz do dono (dos seus donos ― expressamente, a Ministra da Educação e o Primeiro Ministro). Vou admitir que EPC tem razão (mesmo que a não tenha) nos encómios com que os incensa. Limitar-me-ei a alguns comentários breves a este primor pedagógico (garantem-me que EPC escreve sobre tudo ― saberá, pois, de tudo):

"Mas qualquer professor que não seja um debilóide sabe estabelecer uma relação com turmas de alunos que não conhece e conversar descontraidamente sobre aspectos genéricos das disciplinas e as suas correlações (nada é estanque), sobre os modos de tirar notas na aula, sobre a procura de um livro ou de um artigo na biblioteca, sobre o uso produtivo da Internet e outras questões metodológicas."

Bem… esta pérola é de uma debiloidice de todo o tamanho. A ser verdade o que EPC jura que é,

a) as aulas (as de substituição, seguramente ― e porquê não as outras?) seriam espaços de “conversa descontraída” ― um modelo rejeitado por quem quer que tenha conhecimentos mínimos de pedagogia (ou mesmo bom senso). Talvez EPC não saiba que as aulas de substituição (a ministra, mais inteligentemente/”espertezamente”, fala em actividades de substituição) são para o ensino básico: imagine-se agora uma turma de alunos do básico a ouvir alguém conversar (falar, claro!) sobre aspectos genéricos da das disciplinas (talvez algo no género do que EPC faz quando escreve os textos que vende), sobre o uso produtivo da Internet (veja-se o quadro: um professor a conversar descontraidamente durante 90 minutos com miúdos do básico sobre o uso produtivo da Internet!!!)… Isto, só de quem não sabe do que está a escrever (não terá EPC um amigo que lhe queira bem e lhe faça perceber que, para dizer disparates, já nos chega o Sousa Tavares)?

b) o conhecimento dos alunos é coisa de somenos importância. Ora, defender aulas feitas de conversa descontraída com alunos que se desconhecem só passa pela cabeça de quem nunca pensou nestas coisas a sério. O conhecimento dos alunos é fundamental para uma relação que não se limite às conversas descontraídas dos catedráticos que tinham lugar (terão ainda?) nos imensos anfiteatros cheios de alunos do ensino superior. Debilóides eram (serão ainda?) muitos desses catedráticos ― tanto que se não apercebiam da debiloideice de tal figura. Dos muitos possíveis, apenas um caso (real, garanto eu, e actual) para ilustrar esta necessidade de conhecimento dos alunos: F é meu aluno e ultimamente apresenta comportamentos estranhos (nalgumas situações, a quase raiar a indisciplina ― não interessam para o caso mais pormenores); os professores sabem que a mãe está com alguns problemas de saúde e estão a… agir em conformidade. Imagine-se agora um professor estranho à turma (digamos… imagine-se EPC), conversando descontraidamente com uma turma de quase 30 miúdos irrequietos e “enfrentando” os (vagamente) referidos comportamentos. Se EPC fizesse uma (pequena) ideia do que isto é (um conjunto de quase 30 miúdos numa sala ― com, por exemplo, um deles a gritar que não se importa que o professor comunique aos pais o que quer que seja, porque o pai chega bêbado a casa e não vai ler nada do que o professor escreva…), se EPC fizesse uma (pequena) ideia do que isto tudo é, calava a pena (e vai sendo tempo de que se cale quem não percebe daquilo sobre que fala. Ou escreve).


ai.valhamedeus@gmail.com

2 comentário(s). Ler/reagir:

martim de gouveia e sousa disse...

Pois é: o E.P.C. sobre tudo opina e, desde há muito, atira sempre ao lado. Não há que fiar no caso mais triste de desgate. 1abraço.

Anónimo disse...

Parabéns pelo blog!
O artigo diz tudo. E tu tens (quase) sempre razão.
Abraço1