Já não há Carnaval.
Há quarenta anos, as pessoas mascaravam-se, pregavam partidas umas às outras, enfarinhavam-se. Depois, entrava-se na quaresma, não havia bailes, praticava-se jejum. Era o nosso Ramadão. Nunca gostei do Carnaval, nunca me mascarei, nunca preguei partidas
(a única coisa de que gostava no Carnaval e fora dele era uma boa tacada com sacos de farelo...).Mas até isso se está a perder. Já não vejo alegria autêntica
(se alguma vez a tivemos).Vejo miúdos chorosos atrás das educadoras a caminho dos redis que a Câmara lhes destina nestes dias, fingindo que se divertem. Vejo vedetas televisivas empoleiradas em tractores gozando da sua efémera fama. Vejo alegria de plástico. O nosso Carnaval não tem o ar sorumbático do de Veneza, nem a alegria estonteante do Rio (ou de todo o Brasil). É nosso.
Mas o que mais me impressiona é a degradação, a perda de vigor, o esmorecer de uma quadra diferente. Tais como as estações dos anos, já não se nota o Carnaval, a Quaresma, as Festas. Resiste o Natal como época de grande consumo. Enquanto isto, temos o dia dos namorados e o dia das bruxas que vão adquirindo uma tradição que não era nossa. Dias de consumo desenfreado também. Qualquer dia comemoraremos o Dia de Acção de Graças. Quando seremos todos Americanos?
escrito por Carlos M. E. Lopes
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