Para não esquecer...

SEMPRE A ABRIR

Desde o 25 de Abril, pelo menos, que tenho vindo a ouvir dizer que se deve abrir a economia à sociedade civil, para nos podermos desenvolver. De facto, nalguns países, como o Reino Unido, Alemanha e França, tem-se vindo a defender o retirar ao Estado as funções económicas, tendo havido uma diminuição do Estado na economia. Em Portugal, a desintervenção do Estado na economia tem sido grande, restando neste momento a Caixa Geral de Depósitos e pouco mais.

Na semana passada, alguns economistas e defensores do mercado, como Belmiro de Azevedo, vieram dizer que o Estado só empata. Segundo Belmiro, cita o Expresso, “tirando as coisas ligadas a funções de soberania, à Justiça e à Saúde, no resto o Estado só estorva”. Bonito! eu pergunto se, mesmo nesses campos, o Estado não estorvará. Ou será que esperam que o Estado os possa ajudar quando calhar a coisas que lhes interessem?!

Há três anos (mais ou menos) uma plêiade de capitalistas portugueses foi a Belém e apelou a Jorge Sampaio para que este evitasse a saída dos centros de decisão de Portugal. Patriótica, esta gente! Mas não percebo esta preocupação: agora vêm dizer que o Estado estorva

(e eles, não?).
Os nossos capitalistas sempre viveram sob a protecção do Estado. No entanto, dizem, a saúde, a justiça e a defesa deveriam manter-se no Estado. Não percebo como a Justiça não pode funcionar sem o Estado. Não seria mais barata, mais eficaz e, já agora, mais justa? E a saúde, com seguros de saúde, entregues à iniciativa privada, não era mais barata? E a defesa, como nos Estados Unidos, com os vendedores de armas a fazer lobby junto ao presidente e ao congresso, não seria mais eficaz? ou será que a iniciativa privada ainda não tem dinheiro para isso, ou a mobilização ainda fica muito cara -- e, por isso, o Estado que arque com essa despesa? Ou será que o Estado ainda pode servir para os proteger?

Esta gente fala do afastamento do Estado e aponta como exemplo a Irlanda e os tigres asiáticos. E os exemplos da Dinamarca, da Noruega e da Suécia não lhes servem? É consensual que a dama de ferro protegeu tanto o Estado social no Reino Unido como os trabalhistas – o exemplo não lhes serve?

Os nossos homens de iniciativa privada não movem um dedo sem a protecção do Estado... e ainda reclamam que deve desaparecer
[daqui não se retire que sou contra a iniciativa privada. Essa gente merece o maior respeito. Não me tentem é convencer que os princípios defendidos por essa (outra) gente se baseia em eficácia do mercado (ou dos mercadores, como dizia Agostinho da Silva?), e não nos interesses deles próprios. Não tenho pachorra para demagogias alarves].
escrito por Carlos M. E. Lopes

1 comentário(s). Ler/reagir:

António Louro Miguel disse...

Gostei muito de ler este post, se calhar porque o subscrevo nos seus argumentos essenciais. A hipocrisia capitalista tem de ser denunciada. Aliás, corremos o risco de esses falsos liberais, que fingem odiar o Estado, deixarem o país como as embalagens de leite estragado: OPAda!!
Abraço, ALM