o pó e o nada
I
Agitam-se, revolvem-se, remexem-se...
Ferem os grandes echos...
Enchem de bulha e pasmo o universo...
Põem terror e espanto!
Alevantam o pó de toda a estrada...
E agitam toda a onda!
Tem o sceptro, a tiara, a espada, a bolsa...
Mandam nos corpos todos!
Vê-os passar a gente, como uns astros,
E abaixa ao pó a fronte,
Com medo de ser visto e que se abraze
No rabo do cometa!
II
Pois bem! Grandes, Altivos, Poderosos,E Cometas da altura,
E Senhores da terra e Semi-deuses...
Vós sois o pó e o nada!
Atroadores! o ruído immenso,
Com que abalaes o mundo,
É apenas fracasso e pó e estrépito
De casa que se alue!
III
O espanto, que espalhaes, não vos pertence...Não é a vossa força.
E o tremor do solo, é o presagio
Do grande terremoto!
É o vôo da aza poderosa
D'aquella aguia cruenta,
Que vos ha-de abater, precipitando-vos
Co'a face contra o sólo!
É o echo longinquo das revoltas!
É o grande rebate!
[...]
(Antero de Quental, 1842-1891 - Odes Modernas)
escrito por ai.valhamedeus
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