Uma estranha paixão invade as classes operárias dos países em que reina a civilização capitalista; uma paixão que na sociedade moderna tem por consequência as misérias individuais e sociais que há dois séculos torturam a triste Humanidade. Essa paixão é o amor ao trabalho, o furibundo frenesi do trabalho, levado até ao esgotamento das forças vitais do indivíduo e da sua prole. Em vez de ragir contra esta aberração mental, os padres, os economistas e os moralistas santificaram o trabalho. Homens cegos e de limitada inteligência quiseram ser mais sábios do que o seu Deus; seres débeis e detestáveis, pretenderam reabilitar o que o seu Deus maldisse. Eu, que afirmo não ser cristão, nem economista, nem moralista, face ao seu juízo faço apelo ao juízo do seu Deus, face às prescrições da sua moral religiosa, económica ou livre-pensadora, faço apelo às espantosas consequências do trabalho na sociedade capitalista.
Na sociedade capitalista, o trabalho é a causa de toda a degeneração intelectual, de toda a deformação orgânica [...].
Se, desalojando do seu coração o vício que a domina e envilece a sua natureza, a classe operária se levantasse na sua força terrível para reclamar, não já os direitos do homem, que são simplesmente os direitos da exploração capitalista, nem para reclamar o direito ao trabalho, que não é senão o direito à miséria -- mas para forjar uma lei de ferro que proibisse a todo o homem trabalhar mais de três horas diárias, a terra, a velha terra, estremecendo de alegria, sentiria agitar-se no seu seio um novo mundo... Mas, como pedir a um proletariado corrompido pela moral capitalista uma resolução viril?...
[Paul Lafargue - A organização do trabalho. O direito à preguiça. A religião do capital (1880)].
escrito por ai.valhamedeus
PELO DIREITO À PREGUIÇA!
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viva a preguiça
Idealismos ingénuos e bacocos à parte, acredito que o futuro da humanidade passa precisamente pela diminuição progressiva das horas de trabalho e do (incontornável) aumento da produtividade, por via da escravização, já não do homem, mas da máquina, no sentido de libertar o ser humano para tarefas exclusivamente lúdicas.
Afinal queremos máquinas para quê!? As gajas que trabalhem que nós temos mais que fazer!
Abraço,
ass.: Um tipo que a esta hora está a trabalhar porque não tem uma máquina que o faça por ele...
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