ANIVERSÁRIO
Miguel Torga nasceu a 12 de Agosto de 1907
[estamos, portanto, em maré de comemoração dos seus 100 anos].
Gosto particularmente dos "Diários" de Torga. Por esta razão maior: quando Torga escreve sobre si, não é (só) de si que fala, mas de nós. Dos portugueses. Do Homem.
[Porque hoje faço anos]
recordo o que a 12 de Agosto de 1974 escrevia o poeta:
Coimbra, 12 de Agosto de 1974 — Mais um ano. Mais um palmo a separar-me dos outros, já que a vida não passa de um progressivo distanciamento de tudo e de todos, que a morte remata. Existir é ir perdendo. Primeiro, a paz uterina; depois, a meninice; depois, a juventude; depois... E nesse depauperamento inexorável - a capacidade de imaginar, de procriar, de discernir - os pontos referenciais são as pessoas que nos rodeiam. É nelas que nos reflectimos e é delas que nos afastamos, voluntária ou involuntariamente. Olho à minha volta. A clareira é cada vez maior. Por culpa de quem? Da ceifeira impiedosa, evidentemente, mas, também, das mútuas repulsões que a natureza motiva. Cansaço, desencanto, desentendimento... O certo é que, de passo em passo, cheguei a esta íntima solidão humana, a que me resigno enquanto indivíduo, mas como artista sempre reneguei e renegarei. Um rosto recortado no meio de uma multidão de rostos esfumados. Oiço as acusações. Que sou intransigente, que era difícil o meu trato. Talvez. Resta saber o que fizeram os que se queixam, enquanto amigos, para enriquecer de algum modo a qualidade dos meus dias, e se, de facto, terão sido repelidos pelo meu mau génio, ou movidos pela má consciência de que me pediam menos do que aquilo que eu lhes quis dar...
escrito por
ai.valhamedeus
2 comentário(s). Ler/reagir:
Não há depois ... Não sei se infelizmente, se felizmente.
Há distância vê-se melhor. Faz-nos melhor. Mas, por vezes, o contacto é muito necessário.
Abraço
MF
Onde se lê "Há distância" deve-se ler "À distância".
Desculpem, por vezes, estes lapsos de um nativo da língua inglesa.
Abraço
MF
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