Estórias do Sul
Em
Estórias do Sul [Lisboa: Edições Colibri, 2005]
Teresa Rita Lopes passa a papel estórias alentejanas e algarvias
[de Faro, sua cidade Natal; de Cacela, onde passava todas as férias pequenas; de Vila Real de Santo António, onde a Avó materna se criou e viveu, o Avô foi chefe da estação de comboios e a Mãe nasceu; da Fuzeta e de Cabanas de Tavira; de Alcoutim, "berço dos meus pais e dos meus avós paternos"].
Fá-lo
"porque já não confio na transmissão oral: perdeu-se a tradição rural de contar contos, e as anedotas, de raiz urbana, geralmente em torno de casos políticos ou escândalos sociais, passam, em revoadas, sem deixar rasto escrito".
Do capítulo referente à Fuzeta e a Cabanas de Tavira, reproduzo a estória de Cabanas, com a anotação de que o Carlos Lopes que nela aparece é o mesmíssimo Carlos Lopes que é responsável pelo
aijesus e a quem aqui deixo um abraço por ocasião do seu aniversário:
"Para não dizerem que eu só conto estórias de mulheres, vou contar esta, de um pescador de Cabanas de Tavira, que me foi relatada pelo Carlos Lopes, marido da minha amiga Fernanda Guerra.
O marítimo tem uma relação com o dinheiro completamente diferente da do serrenho, que vive meia dúzia de quilómetros acima mas numa paisagem, de facto, diferente. Quando desce ao litoral, diz que vai "ao Algarve". O homem do mar é mãos largas e chama "sumítico" ao da serra (sem já saber que está a ser anti-semita, pois "sumítico" é, seguramente, corruptela de semita). É atitude natural a do pescador que esvazia os bolsos no balcão da taberna para pagar rodadas aos presentes, declarando: 'Esta noite vou pr'ó mar!'. Quererá ele dizer que vai ganhar mais dinheiro, não precisa daquele, ou que o mar não acolhe bem pessoas com os bolsos carregados?"
escrito por
ai.valhamedeus
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