Para não esquecer...

VERÃO ALGARVIO, VERÃO CULTURAL

Estamos no cerne de Agosto e o Algarve regurgita de festivais.

Os Municípios, a Região de Turismo e o Governo – que atribuiu generosamente 1,5 milhões de euros para a promoção de “eventos culturais” no Algarve estival – apostam assim, e assim o proclamam com ufania, numa “oferta cultural” complementar ao turismo de sol e praia. As funções e funçanatas são, pois, para turista ver. E de lés a lés, ele é o Festival da Sardinha em Portimão e o Festival do Marisco em Olhão, ele é a Feira Medieval em Silves e os Dias Medievais em Castro Marim, ele é o Festival Sons do Atlântico em Lagoa e o Festival La Línea em Faro, et coetera, et coetera… Tudo convenientemente no litoral, claro, que os destinatários privilegiados são as insaciáveis “massas” que o atulham e os beneficiários os magníficos “empreendedores” que o exploram.

Há um ano atrás o cinema itinerava pelas aldeias do interior, levando um suplemento de beleza e consolação às populações abandonadas e envelhecidas; o grupo de teatro O Bando residia em Querença, e oferecia espectáculos livres e ao ar livre, em colaboração com os moradores; cerca de três dezenas de exposições de artes plásticas distribuíam-se pela geografia algarvia; uma companhia de novo circo de nível mundial, Les Arts Sauts, estanciava em Albufeira; a Companhia de Olga Roriz actuava no areal da Ilha do Farol; a Orquestra Sinfónica Portuguesa, a Remix Orquestra, Ana Bela Chaves, Olga Prats e outros dos melhores intérpretes da música portuguesa contemporânea apresentavam-se em Lagos, em Faro, em Tavira…

Nada, evidentemente, que se compare a Toni Carreira, essa figura de proa dos Festivais da Sardinha e do Marisco. E não se compara por custarem mais caro? Pelo contrário, custavam mais barato. Os milhões de euros que Autarquias, RTA e Governo derramam sobre o Verão algarvio, para saciar as massas empaturradas de sardinha e marisco, davam e sobravam para o cinema itinerante, para o teatro e o novo circo, para a dança e para a música não demagógicos nem populistas. O problema não é pois de falta de dinheiro. É de opção, deliberada e intencionada opção: vamos dar-lhes o Toni Carreira, porque é o que “eles” gostam – e “eles”, coitados e felizes, não são capazes de gostar de outra coisa…

escrito por A TERCEIRA PESSOA

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