Na introdução a Poesias Completas de Alexandre O'Neill
[Lisboa : Assírio e Alvim],Miguel Tamen escreve:
Como toda a poesia, a de Alexandre O'Neill não deve nada à "realidade" (p. 14).Seja! será então a realidade que deve
[muito?]à poesia de O'Neill, em particular -- e à restante, em geral?
O mesmo introdutor esclarecera já, a páginas 10, que
os poemas [...] não querem dizer nada nem escondem coisa alguma: só dizem coisas.Seja, mais uma vez. Que coisas dizem, então, os poemas de O'Neill?
Recordo "Perfilados de medo", um dos poemas com endereço, de 1962. E não posso deixar de o associar ao medo dos anos 60
[portugueses]do século passado. E estremeço quando agora o associo aos anos zero deste século. A 2006. Às ameaças
[por exemplo]de um tal Pedreira, secretário de estado adjunto: vamos ao fundo, garante ele, se não entrarmos no barco dele(s).
Segue a memória de PERFILADOS DE MEDO. Digamos que está cá tudo!
Perfilados de medo, agradecemosescrito por ai.valhamedeus [com um abraço para o Jerónimo Costa]
o medo que nos salva da loucura.
Decisão e coragem valem menos
e a vida sem viver é mais segura.
Aventureiros já sem aventura,
perfilados de medo combatemos
irónicos fantasmas à procura
do que não fomos, do que não seremos.
Perfilados de medo, sem mais voz,
o coração nos dentes oprimido,
os loucos, os fantasmas somos nós.
Rebanho pelo medo perseguido,
já vivemos tão juntos e tão sós
que da vida perdemos o sentido...
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