regresso às aulas
Hoje fui à praia.Acompanhada pela minha filha, pelas minhas leituras e pelas minhas recordações.
Estava calor, apesar das nuvens, que alguém comparou à verdade, porque “se modificam e desaparecem”. Sentada na mesa ao lado, de frente para o mar sem dar por ele, cabelos pintados de louro, longos e escorridos, óculos de sol, calções curtíssimos de teenager desnudando-lhe as pernas bronzeadíssimas, fazia-se notar à légua. Por entre longas baforadas de fumo do cigarro impante e por detrás da xícara de café vazia, a mulher-menina massacrava os ouvidos da sua interlocutora com conversas que versavam os mais desvairados assuntos: desde a família, as amigas de infância, passando pelas empregadas e recepções fantásticas em vivendas, “apesar da crise”, terminando na escola e nos filhos. Ah! E política.
Tudo muito pontuado de merdas, porras, ‘tás a ver, prontos, gajos e gajas, é pá, e outros maravilhosos bordões da linguagem que lhe ajudavam o discurso, brotando ininterruptamente, e desconcentrando-me do meu jornal. Indiferente ao mar! Toda ela centrada na sua pessoa e na verborreia balofa.
Veio-me ao pensamento o pai de um amigo da minha filha, que se suicidou desligando-se voluntariamente deste cenário belo e apaziguador, pelo menos para mim, por já não ter nenhum “estonteamento” que o prendesse à vida e lhe permitisse suportá-la!
Como diria Raul Brandão.
A páginas tantas ouvi-a dizer: “Também me entreti (sic) assim!”, ao referir-se às amigas pobres. E a ela não se lhe dava de as imitar. Blá, blá, blá.
Ainda a ouvi, contrariada, proclamar que “Tava só à espera que a escola” (não sei se privada se pública) do filho assentasse (o termo é meu), para ir falar com a DT sobre não sei que professora que “tirava aquela merda (os testes) aos alunos logo que tocava. Tás a ver?”
Será?
escrito por Gabriela Correia (Faro)
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