Para não esquecer...

A CHARAMELA DA RETÓRICA

Gramática
Persistia a anáfora incitando atenção
Enquanto displicente metáfora magicava ilusão
O hipérbato transgredia ordenações
O qui pro quo alimentava perdições
Dizia a comparação que todos somos iguais
Melodiosa aliteração sereiava sons fatais
Sujeito mais predicado e complemento directo
Congregavam tempo e modo em busca do objecto
Destinador adjuvante destinatário oponente
Um concerto regido em tom menor dolente

Eis senão que:

- um C sem cedilha estrepitoso ladrou
- um verbo intransitivo e mudo apitou
- um advérbio demente revoltilhou
- e um adjectivo inqualificavelmente não qualificou

- a anáfora da abundância engasgou-se
- a metáfora equívoca empifou-se
- o hipérbato inconformado comportou-se
- e o qui pro quo plurívoco univocizou-se

- a comparação gritou: -“Ipiranga!
- a aliteração deu de dorso à charanga
- o sujeito recorreu ao predicado expulsando o complemento
- o pronome em atopia perdeu tempo modo e tento
- e de Greimas os actantes
- fizeram manguitos aos restantes

e desta forma:

perdeu-se o discurso tão bonitinho sincero e arrumadinho libertando-se as palavras de tal hino afinadinho
soaram em Mafra os carrilhões clamou no serro surdo singelo sino
nas asas dos pombos arvéolas pardais perderam-se em infindas revoadas sem rumo tento e tino ditongos e monotongos consoantes e vogais…


escrito por Paulo Neto, Viseu

1 comentário(s). Ler/reagir:

Anónimo disse...

Ó gentes! Quem é que me elucida do que se trata quando alguém refere um "advérbio disjunto restritivo da verdade da asserção". Será: Vá de retro, Satanás?, como alvitra uma professora de Português escaldada e desconfiada? Ou será tão só o inconspícuo advérbio "porém". Eu é que lhes dava um porém se os apanhasse aqui.