Sou contra o aborto. Visceralmente contra o aborto. Sobretudo o aborto por questões estéticas
(as peles na barriga),o ditado por questões económicas
(por se dividir a herança. Não há dinheiro para dois filhos no Colégio Alemão).Aliás estas “madames” sempre podem ir à clínica Arcos. Por isso podem ser contra o aborto, convictamente.
O aborto é um acto doloroso, tanto físico como moral. Ninguém aborta, penso eu, cantando e rindo. Ninguém é a favor do aborto. Eu também não sou.
Mas também sou contra as condições em que muitas mulheres engravidam. Por violação, sob efeito das drogas, por falta de conhecimento de métodos contraceptivos. Por uma vida de carência e de miséria nos bairros pobres do nosso país. A das mulheres que vivem na exclusão
(como se diz agora),à margem da sociedade, subjugadas por uma vida de miséria e promiscuidade.
As mulheres pobres que abortam fazem-no em locais sem condições, com perigo de morte, até. Por ano, são milhares as mulheres que recorrem a essa forma de interrupção “voluntária” da gravidez. Chorando sangue muitas vezes. A isso acrescenta-se a possibilidade de serem acusadas, julgadas e encarceradas. As “madames” foram às clínicas; as miseráveis vão a um vão de escada de um carniceiro qualquer. Poupem-nas ao julgamento dos homens, deixem-nas sós perante Deus e a sua consciência.
escrito por Carlos M. E. Lopes
5 comentário(s). Ler/reagir:
Pois é! Estava tudo bem no início e no meio,... mas o fim estragou tudo. Não podemos esquecer que esse tal deus tem representantes inflaíveis na Terra que afirmam que ele é contra o aborto.
Como o deus não os renega,decerto que falam verdade e podem assumir poderes condenatórios.
O melhor é colocar esse deus no local onde ele deve estar: junto da branca de neve, do pinóquio, da bela adormecida, etc,(vulgo, personagens de ficção),...e deixar quem aborta apenas perante a sua própria consciência.
(Amenophis)
Completamente de acordo, Amenophis.
...a menos que, no texto, Deus seja um símbolo. O símbolo daquela entidade com a qual a consciência... dialoga. Seja lá isso o que for (de acordo com a variedade das consciências).
...e, pelo que conheço do Carlos Lopes, inclino-me para pensar que assim seja. Mas, além de símbolo, Deus é a entidade que muitos dos defensores do "não" invocam como autoridade contra o "sim": faz sentido, neste contexto, apelar a que deixem que seja essa entidade a julgar quem decide num sentido ou noutro.
Também concordo que ninguém é realmente a favor do aborto. O que sucede é que perante as tais más condições em que o aborto é realizado, aceito que seja despenalizado.
Mas, para mim, fica-se por aí. O Estado não tem que pagar os abortos de toda a gente. A não ser que, numa hipótese em que no presente se verifica o contrário, o Estado comece a pagar, sem excepção, todos os serviços de saúde que cada um de nós precisa (oftalmologia, dentista, etc.).
Tudo bem! Criem-se condições!
Vejam a lei. Ou pelo menos as excepções à mesma. Perceberão que estão contemplados todos os casos em que a morte de uma pessoa pode ser pensada.
Desconhecimento da existencia de metodos contraceptivos ou incapacidade de aquisição dos mesmos ? Isso não é desculpa. Há informação até excessiva sobre eles e são distribuidos gratuitamente em milhares de locais.
Sejamos responsáveis pelos nossos actos. Se eu matar uma pessoa na rua e alegar que desconhecia as consequencias de disparar uma arma, não sou ilibado de nada. Mesmo que seja a minha mãe ou o meu filho e me obriguem a diversas despesas.
Sejamos responsáveis. Saibamos VIVER.
Caro "não",
o problema do aborto não se discute assim.
O seu comentário é feito de "chavões emocionais" e um "argumento" por analogia bastante fraco, porque supõe exactamente aquilo que se deve discutir, a saber: se o feto é uma pessoa, como são os seus exemplos da pessoa que mata na rua, a pessoa da sua mãe ou do seu filho.
Os apelos no género do "Sejamos responsáveis", a mim, não me iludem, nem me fazem desistir da discussão séria. Aceito que se trata de uma questão séria, aceito o carácter polémico da mesma, e é por isso que defendo a discussão. Mas uma discussão intelectualmente séria.
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