Num frente-a-frente entre Odete Santos e Gentil Martins, na TVI, o segundo puxou ontem dos seus galões
[que é como quem diz, do argumento de autoridade]para defender o "não" à despenalização do aborto. Segundo o médico, a ciência médica provaria uma série de "coisas", e prová-las-ia suficientemente para todos os médicos estarem necessariamente do mesmo lado: do lado do "não".
É claro que Gentil Martins tem o direito de defender o que entender. Não tem é o direito de ser aldrabão. Na verdade, os médicos não estão, justificadamente, todos do lado do "não". A provar o que digo: acabo de receber um texto assinado por cerca de 60 profissionais da saúde do Algarve
[entre os quais, médicos ligados às especialidades de pediatria, ginecologia e obstetrícia]onde apresentam as razões pelas quais defendem o "sim".
É que, de facto e ao contrário do que afirma Gentil Martins, a questão em debate não é resolúvel cientificamente: os dados da ciência médica não podem ser mais do que o ponto de partida; o ponto de chegada, esse, é filosófico. É isso que explica que haja profissionais da saúde de "ambos os lados".
escrito por ai.valhamedeus
3 comentário(s). Ler/reagir:
um ponto de partida que é da ciência, um ponto de chegada que é da filosofia?
sabes o que te digo? que se foda a ciência mais a filosofia. esta questão não pode estar balizada quando há gente no meio, porra.
eu sou sim, mas estou farta da agenda do referendo, das "campanhas", como se andassem a vender colecções de roupa. tu não vês bem os outdoors, caraças? olha bem para aquilo, são IGUAIS!!! farta de homens a defender a dignidade das mulheres quando seguem como princípio de vida que "os bebés são da mãe", para não terem de mudar uma fralda. a dignidade da mulher? parece mais o caralho da gravata deles! mas o melhor tem sido ver mulheres que desancam nas outras mulheres, estas atávicas machistas que secam o leite para não perderem a firmeza das mamas. ou melhor ainda, que nem sequer nunca foram mães.
puta que pariu o referendo.
ó alexandra,
não posso estar mais de acordo contigo (até na veemência das tuas palavras: fizeste-me lembrar o poema temperamental do J. Pessoa).
só que neste momento, queiramos ou não queiramos, é de referendo que se trata. de leis. e, logo, de... fundamentação. e, neste contexto, a única forma de ultrapassar os outdoors é... a discussão filosófica. ou não?
Abraço do
Ai meu Deus
a única verdadeira forma de ultrapassar esta questão era persuadir todas as mulheres que já abortaram a ir para a rua. convidar estes hipócritas que botam eloquências várias a olhar com outra atenção. quem sabe se, no meio de tanta anónima, não estaria a mãezinha, a mana, a namorada do liceu, a tia, a melhor amiga, a mulher, a cona da prima.
imagina que ganha o sim, o que duvido. pensas que vão alguma vez acreditar que somos pela vida, ainda que votando sim no referendo?
a vida está cheia de (aparentes) absurdos.
um abraço (daqui até aí).
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