Para não esquecer...

AMENDOEIRAS EM FLOR

As amendoeiras sorriem-me à passagem.

-- As amendoeiras são inanimadas. Portanto, não sorriem, diria o professor, contrafeito, obedecendo, porém às regras da TLBS.

E, contudo, as amendoeiras sorriram-me. Um sorriso branco e rosa, alindado pelo oiro pálido do sol tímido da tarde.

E eu ia perdendo esse sorriso!

Pela pressa, pelo hábito quase perdido de olhar.

Ia perdendo o inusitado do fulgor rosa e branco, ao virar da curva.

Venha ao Algarve! Admire as amendoeiras em flor!”, dizem os folhetos aos turistas.

Como se poderá ver o sorriso engalanado, se tapado, entaipado pelas casas altas? Algumas imitando o branco e rosa das flores da amendoeira.

Pobres turistas, “adoradores do sol”, à cata do Paraíso.

E nós, os que cá estamos, vivemos, trabalhamos, sem tempo para mirarmos o desabrochar repentino, florido e tão efémero, das amendoeiras em flor. Ainda bem não, já lá não estão.

Como leve camada de neve a derreter ante os nossos olhos espantados. Como os olhos da princesa da Lenda.

E temos pena.

Temos pena de que todo aquele esplendor se desvaneça. Se torne um momento tão leve e tão fugaz quanto os sonhos.

Mas uma esperança fica.

A esperança de que para o ano sejamos outra vez surpreendidos pelo branco e rosa, num repente. Ao virar da curva.

E tudo estará bem se as amendoeiras continuarem a florir.

P.S. Quando, e se, alguém ler este desabafo, temo que as flores já lá não estejam

escrito por Gabriela Correia, Faro, Fev. de 2007

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