O Governo e o Partido Socialista, melhor dizendo, José Sócrates, porque uma e outra instituição não existem senão como instrumentos de legitimação do absolutismo do primeiro-ministro, entendeu que as políticas de gestão do parque escolar público devem transitar para o domínio empresarial. Vejamos o que se retira do regime jurídico da nova entidade pública empresarial, "Parque Escolar, EPE", publicado no Diário da República de 21 de Fevereiro de 2007:
- A retórica que justifica o diploma é conhecida. Retoma os dogmas do liberalismo para impor que o público é diabólico e o privado angélico. Infelizmente, a realidade não muda com as fixações obsessivas de Sócrates. O problema não é o de ser público ou privado, mas o de ser bem ou mal gerido.
- Este diploma é nojentamente hipócrita: num contexto de redução de organismos e funcionários públicos, cria uma empresa para fazer as mesmíssimas coisas; reconhece a ineficácia de processos mas não tem coragem para os reformar; torneia-os, criando novas estruturas para escapar ao que o discurso politicamente correcto continuará a defender. Dois exemplos: a) a nova entidade pode vender, comprar e contratar por ajuste directo. Se os concursos públicos são empecilhos, deixem de os invocar como instrumento de transparência e boa gestão. b) A nova entidade é agora dona e senhora de sete escolas secundárias localizadas em zonas nobres de Lisboa e Porto. São milhares de metros quadrados urbanizados, consignados a uma empresa pública que deve, e cito do diploma, "... conceber, desenvolver e gerir unidades de negócio destinadas a potenciar receitas de exploração das escolas secundárias ..." e que "... pode, acessoriamente, exercer quaisquer actividades, complementares ou subsidiárias do seu objecto principal, bem como explorar outros ramos de actividade comercial ou industrial...". O mesmo governo que apregoa a autonomia das escolas retira aos seus gestores qualquer direito sobre um dos instrumentos de gestão mais básicos, o espaço físico. Não será uma aberração? O que é isto de "potenciar receitas de exploração das escolas"? Não é legítimo pensar que grandes negociatas estão para vir? Foram os quartéis, poderão ser as escolas.
- Contrariamente ao que passou para a opinião pública, a nova entidade não se vai ocupar apenas das escolas secundárias. A sua acção pode estender-se a todas actualmente sob tutela do Ministério da Educação.
- Esta novel empresa pública é bem mais que uma simples empresa. Tem poderes para expropriar, embargar, cobrar taxas e decretar demolições. Cruzem-se estes poderes extraordinários com o que acima se transcreveu e imagine-se o que aí pode vir. Preparem-se as clientelas: podem ser instaladas delegações em qualquer ponto do país, as admissões escapam a qualquer congelamento e os salários dos trabalhadores são de fixação livre. Os membros do conselho de administração têm o estatuto de gestores públicos, o que lhes garante as indemnizações da ordem.
escrito por Santana Castilho, Professor do ensino superior [publicado no Público]
3 comentário(s). Ler/reagir:
Já o disse n vezes: estes gajos só param quando se privatizarem a si próprios enquanto (des)governantes.
Isto se entretanto o voto os não enviar para as suas casas privadas o que, a acreditarmos nos media, será lá p'ró final do século...
P... que os p...!
para casais garcias e com oiros conversantes, quaresmalmente manifestando-se no manifestar-se. abraço para o ai meu deus, raso- manifestativo no espaço medial que medeia entre o dizer e o desdito, qual sina com adufe.
Foi preciso chegar esta gente para, finalmente, compreender o que é o socialismo.
A ver vamos se têm o descaramento de pôr o cravo na lapela no dia 25 Abril.
Das conquistas de Abril já poucas restam.
Por curiosidade foi ver o que é que o dicionário dizia.
socialismo=doutrina de organização económica e social que considera que o interesse e o bem da comunidade se devem sobrepor ao interesse particular;
sistema dos que procuram reformar o estado social, pela incorporação dos meios de produção e consumo na comunidade, pelo regresso dos bens e propriedades particulares à colectividade, e pela repartição, entre todos, do trabalho comum e dos produtos de consumo.
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