Reconheço que o Ai Jesus! não é propriamente blogue para se pôr este tipo de música. Receio mesmo que ele nos faça perder alguns fiéis leitores. Mas, tratando-se, como me garantem, de um êxito musical nos Açores... quem somos nós para contrariar o democrático voto musical popular?
Assim, recomenda-se que se silencie o podcast e se ouça este primor musical: Caguei de manhã, com uma letra também muito exitosa:
Sou Calafão, sou Calafão de São Miguel[ai Jesus!]
E vim da América aqui fazer o meu papel
Sou Calafão de São Miguel, e tou no ponto
É melhor aqui que em São Francisco ou em Toronto
Trouxe uma mala e trinta embrulhos mais ou menos
“pudeiros” de shorts e “sueras” pós “petchenos”
Pus uma mesa com “candilhos” e pastilhas
São novidades que não se vêem nestas ilhas.
Refrão
Aqui não faz snow
Aqui não há dinheiro
Aqui os Arrepios
É só do vinho de cheiro
Aqui não se anda muito
Aqui tudo é pertinho
Aqui haja saúde
E o resto caguei de manhã.
escrito por ai.valhamedeus [com um beijo para a Teresa Memé]
3 comentário(s). Ler/reagir:
aivalha-me deus, algumas notas sobre este assunto.
Em primeiro lugar algumas correcções:
Não é pudeiros, mas poderios, ou puderis; petchenos também existe com a grafia petxenos; também já existe na literatura açoriana a grafia senó para snow; o último verso não é "caguei de manha" mas "caguê-te Mariano"
Em segundo lugar algunas achegas para a leitura do texto:
Calafão, é um derivado da palavra calafona que indicava o emigrante na California, e que depois passou a designar qualquer luso-americano; "poderios" ou "poderis" significa" em grande quantidade; "short", como está grefado em inglês é de tradução directa e será calções; suera vem de "sweater", e indica uma camisola mais quente; petchenos ou petxenos são as crianças; "candilhos" vem do inglês candies e designa qualquer guloseima; as pastilhas são gomas; a senó ( snow) é a neve; "caguê-te Mariano", é a forma de se poder dizer de modo eufemistico e socialmente aceitável "que se foda".
Em terceiro lugar, para quem quiser saber mais sobre esta cultura de São Miguel mesclada pelas influências americanas, aconselho um livro, que é uma trilogia: " Raiz comovida" de Cristóvão de Aguiar. A minha edição( 2ª) é de 1987 e poderá já não ser fácil encontrar esta obra editada pela Caminho no mercado. É uma visão interessante dos Açores, escrita em "açorianês" por um açoriano, e não por um porigui, (the portuguese).
Caro amenophis,
1. obrigado pelo excelente (excelentemente esclarecedor) comentário;
2. pensei fazer as alterações no texto publicado, mas decidi mantê-lo; primeiro, porque aqui são feitas as correcções; depois, porque o contraste (entre o "post" e o comentário) é ilustrativo do que pode acontecer na comunicação...
Abraço.
Bem observado. Bem, pelo post; melhor pelo comentário.
O post tinha-me re-enviado a um dito antigo: «quando a merda for dinheiro, os pobres nascerão sem cu».
E descubro que não estava muito longe, à fé do comentário correctivo.
Nota para o ai-meu-deus: desta é que perdes a convivência de sua excelência reverendíssima o senhor padre lúcio. Não há ouvido clerical que aguente.
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