Para não esquecer...

CAVACO E O 25 DE ABRIL

cravos do 25 de AbrilO discurso que o Presidente da República portuguesa acaba de fazer nas comemorações do 25 de Abril, na Assembleia da República (AR), põe em questão as referidas comemorações. Não disse Cavaco Silva (CS) como poderiam ser, mas sugeriu que o 25 de Abril se limitava a um feriado e uma série de rituais na AR.

Não admira: CS não é

[nunca foi]
gajo de andar pelas ruas-a-sério
[é antes menino para andar por onde andam os jovens de sucesso que as suas palavras referiram; mas não por onde andam os muitos milhares de jovens a quem os poderes não dão qualquer esperança -- por onde andam os jovens que o seu discurso esqueceu. Os desempregados...];
por isso CS pensa que o 25 de Abril se reduz ao espaço dos rituais em que participa por obrigação do cargo. Está muito enganado.

Não admira: está visto que CS quer que as comemorações se façam de outro modo. Há-de ser qualquer coisa no género de comemorá-lo a trabalhar. Não me admirava de que no próximo ano
[ou antes]
CS defendesse o fim do feriado no 25 de Abril: não foi CS, quando primeiro ministro, quem tirou um outro feriado, o do Carnaval? Até porque, menos de uma semana depois, temos outro feriado: o 1º de Maio. Este, ainda pior que o anterior: com mais cravos
[e está visto que CS não gosta de cravos, pelo menos na lapela],
com mais lutas. Mais vermelho
[e 2 dias vermelhos em menos de uma semana é demais para um Cavaco só]...
escrito por ai.valhamedeus

12 comentário(s). Ler/reagir:

Anónimo disse...

Linda reflexão sobre o 25A.
Só discordo por ter centrado o post em CS.
Chocante foi ver todo o consilium governamental de cravo na lapela.
Este sinédrio em dois anos roubou tudo o que Abril deu aos trabalhadores nas áreas mais sensíveis:
Saúde, Educação, Trabalho, Habitação, Justiça, Economia...
Vê-los agora de cravo ao peito é o cúmulo da hipocrisia.
Isto sim, para mim foi chocante.

Anónimo disse...

Muitíssimo bem observado. Creio que aivalhamedeus estará totalmente de acordo.

Anónimo disse...

Não fui (nunca vou) a nenhuma comemoração do 25A, simplesmente porque acho que se trata de patetices, como o dia da república, do cão, da mulher, do pai, de nossa senhora de fátima... O que leva muitos cidadãos a celebrarem este dia não é muito diferente do que leva os neo-nazis a Sta Comba Dão no dia da morte (infelizmente tardia) do pacóvio Salazar - a fé. E eu não tenho fé. Acredito apenas no que faço/fazemos.
Depois destas celebrações vamos todos continuar a deixar que o outro pacóvio, o da Covilhã, ainda "alive and kicking", destrua paulatinamente tudo o que a luta de inúmeros trabalhadores conquistou após o fim da ditadura.

Anónimo disse...

Este país vestiu de novo a fatiota da tristeza; as dificuldades aumentam a cada dia que passa; estranhos estrangeiros habitam a sua própria terra. O país está cada vez mais estreito, junto ao mar. No interior encerra-se diariamente a esperança de ficar. A alegria vive(?) desterrada na coutada atrevida de uns poucos. Portugal é cada vez menos um país e cada vez mais um centro de negócios com opa's à espreita à porta dos fracos. Vê-los de cravo enfiado e de discurso afiado tem o sabor de um pesadelo; é preciso recomeçar tudo de novo, antes que seja tarde. E já não é?

Ai meu Deus disse...

Bem adivinhado, observador. Pequei por omissão, de facto.

Não é só CS; diria mesmo que não é sobretudo CS (esse não me surpreende). É também, e talvez sobretudo, o sr. José de apelido Sócrates, que às tvs manifestou o seu acordo com o discurso, logo a seguir ao mesmo. O sr José tb me não surpreende -- mas dele era de esperar algo mais. Nem que fosse um pouquinho...

Repito o que tenho dito: se isto é socialismo, puta que pariu tal socialismo em vez de o ter abortado!

Ai meu Deus disse...

vítor m,

o 25 de Abril não é (para mim) uma questão de fé. A 25 de Abril de 1974, pus fim aos preparativos da fuga (à tropa/guerra) para a Holanda. A 25 de Abril do mesmo ano, soube que já não precisaria de voltar à PSP, onde uns dias antes tinha sido interrogado, nem precisaria de disfarçar de convívio de copos as reuniões com os colegas de faculdade, para discutir a actualidade. A 25 de Abril desse ano soube muitas outras coisas do género.

Comemorar isto não é questão de fé. Para mim, pelo menos, não é. Nem acho que seja para os habitantes do país onde aindo vivo.

Abraço vermelho.

Anónimo disse...

Se o tal 25 do quarto mês de 1974 estivesse só embrulhado em fé, sem a vila morena (com cravos nas janelas e baionetas nas portas); sem os Ai meu deus espalhados pela Europa e alguns deles infiltrados no mato africano... então é que teria sido mesmo um verdadeiro

Mi Lá Gre

Anónimo disse...

Vejo que fui mal entendido - não faz mal, já estou habituado...
Acreditar nos ideais do 25A, puros e duros, acredito.
Manter viva a panóplia de comemorações que incluem até, e sobretudo, os que o têm destruido, é isso que me incomoda e me faz afastar-me desse mundo festivaleiro.

Anónimo disse...

"...me faz afastar...", sorry

Anónimo disse...

Observo-te e vejo uma lágrima furtiva ao canto do olho. Toma lá um lenço branco (está lavadinho e passadinho a ferro).

Anónimo disse...

O CS pode não ter posto cravo na lapela, mas o gajo tinha uma gravata encarnada, que eu bem vi! Se calhar, a Mariazinha até lhe deu umas cuecas vermelhas tb.
É preciso é que a malta jovem não se resigne e lhe amande uns tomates bem podres, a ele e ao pseudoengenheiro!!!
Aquele abraço camarada,
ALM

Anónimo disse...

É preciso ter assistido ao espectáculo de seis jovens do Norte, carago, que interpretaram , apenas com instrumentos de percussão( e que instrumentos!) as canções de José Afonso, menos repetidas noutras "funções",e pelo "eterno" Afonso Dias, para se perceber que há jovens que não votaram no Salazar e que sabem que os valores do Zeca são actuais. E actualizaram-nos musicalmente! Um prazer para os ouvidos: instrumentos e uma voz de eleição do J.P.Simões.
A propósito, (ou a despropósito), este blog está a ficar sexista. Para não dizer pior.
Gabriela Correia