Numa grande superfície foi-me hoje proposto que apoiasse a campanha que a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) lançou com o propósito de alterar a actual lei que proíbe a abertura das grandes superfícies nas tardes de domingos e feriados. Recusei.
Sou muito a favor da abertura dos serviços
[privados e públicos]a tempo inteiro. "A tempo inteiro" significa que deveriam estar abertos sempre que os utilizadores precisassem dos seus serviços
[quando, aqui há uns anos, assumi a dinamização de uma biblioteca escolar, uma das minhas primeiras propostas foi a alteração do seu horário de abertura, segundo o princípio: a escola está aberta? a biblioteca, também!].Por que é que, então, estou agora contra a proposta da APED?
Não é preciso ter, como eu, familiares a trabalhar em grandes superfícies para saber que as condições de trabalho
[designadamente, as de horário]não são particularmente recomendáveis. Por outro lado, por razões da nossa organização social
[e por influências da religião católica],o domingo está estabelecido como dia normal de "descanso familiar"; por isso, entendo que tudo o que contrarie essa "normalidade" deve ser considerado "anormal". Anormal, no caso em apreço, quer dizer que todos os funcionários que trabalharem em dias não úteis devem ser significativamente compensados
[de diversas formas, incluindo a monetária]por tal facto. Enquanto isso não for garantido, serei contra o pretendido prolongamento do horário
[serei mesmo a favor do encerramento total aos domingos e feriados].Depois de tal garantia, 500% a favor.
Eu bem sei que esta é uma questão laboral e, portanto, compete aos sindicatos
[e não a mim, consumidor]tratar dela. Mas eu
[que, além de consumidor, sou trabalhador]também sei que, em virtude do actual número de desempregados e da consequente procura de emprego, facilmente os donos
[e chefões e chefinhos]das grandes superfícies aplicarão o princípio que está a estender-se por este país
[e já a aplicar-se nalgumas autarquias aos professores por elas contratados]:
não querem? há mais quem queira...Nb: na Internet, para além da possibilidade de assinar a petição, a APED apresenta 12 argumentos a favor da abertura do comércio ao domingo.
escrito por ai.valhamedeus
6 comentário(s). Ler/reagir:
contigo sigo. abraço.
Li os 12 argumentos. Todos coxos. Todos com sabor a dinheiro... para as grandes superfícies. Todos com uma areia de falácia nos dentes.
A abertura total e absoluta não baixou o desemprego em nenhum país.
Esses argumentos têm mais peso se aplicados às repartições públicas, por exemplo.
Quantas grandes superfícies abrem os seus escritórios aos domingos e feriados? Em quantas delas poderei encontrar um alto responsável a quem apresentar uma queixa nesses dias?
A ver se alguém se atreve:
1. a pedir que abram aos domingos e feriados as repartições públicas, os centros de saúde e as escolas, por exemplo.
2. a exigir que se pague salário dobrado nesses días aos empregados.
Não sabia que o Domingo católico também era sagrado para si...
:P
Tenho familiares que trabalham em grandes superfícies comerciais e tenho quase a certeza que se essa lei fosse alterada, o resultado não seria mais emprego, mas sim mais horas de trabalho para os que já lá estão.
abraço.
Domingo católico? Pensei que só havia um Domingo para todos. E é sagrado para aqueles que acham que quem trabalha tem direito a um dia de descanso.
Se os comerciantes o considereassem sagrado é que seria mesmo um grande...
Mi La Grrrr
As bibliotecas e todo o tipo de serviços deveriam estar abertos Domingo e à noite, todos os dias.
Sou mesmo egoísta. E os turnos?
Abraço
MF
Não sei o que pensam os assalariados que assim terão que sacrificar mais um período de descanso para que os seus patrões mais enriqueçam.
Enquanto consumidor não vejo nenhuma vantagem, e olhando para o resto da europa, vejo-nos sozinhos nesta cruzada de incentivo ao consumo gratuito e pateta.
O que se vê nos paises que gostamos de invocar como exemplo é o comércio fechado ao sábado à tarde e domingo todo o dia.
Também numa grande superfície onde o documento me foi apresentado, perguntei ao caixa a opinião dele.
O gajo teve corajosos tomates para dizer que não concordava mas que o chefe lho tinha ordenado (eu também não acho piada às aulas de substituição, mas a "chefa" decretou e lá vou fazendo..)
Esta nova escravatura de baixos salários e cada vez menos tempo de lazer mereceria mais contestação do que os tradicionais sindicatos com as suas obsoletas formas de "luta" (greve deveria ler-se dias de trabalho para a nação/patrão) têm sido capazes de alinhavar...
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