Para não esquecer...

CAFÉ PHILO - 16 DE MAIO

CAFÉ PHILO
DIA 16 de MAIO às 21H00
Na Cafetaria do INSTITUTO FRANCO-PORTUGUÊS
TEMA: A RELAÇÃO COM O OUTRO / LE RAPPORT À AUTRUI

Debate em francês e português animado por

Jean-Yves Mercury
Dominique Mortiaux
Nuno Nabais

Depois do enorme sucesso de afluência e participação do primeiro Café Philo no Instituto Franco-Português, um novo encontro/debate ficou marcado para dia 16 de MAIO às 21h00 na Cafetaria do Instituto Franco-Português (Av. Luís Bívar, 91 em Lisboa).

O tema agora será A RELAÇÃO COM O OUTRO / LE RAPPORT À AUTRUI.

Rapport à Autrui/Relação com o Outro

Até onde vai o conceito de “Outro”? Poderemos nele incluir a experiência de nós próprios? E um animal: é ele também um Outro? O outro é o estranho, o diferente, ou simplesmente o não-Eu? O que é primeiro na estrutura do Outro: o Tu ou o Ele/Ela? E porque é que o Tu não admite a mesma diferença entre o feminino e o masculino que o Ele/Ela?

Estas questões parecem ser universais, atravessar todas as épocas e todas as culturas. E, no entanto, sabemos que isso não é verdade. Há tradições especulativas que, em si mesmas, são mais sensíveis à questão do Outro. Esse é o caso da filosofia em língua francesa - talvez por o seu momento fundador ter sido construído sobre a exclusão radical da ideia mesma de uma existência para além de mim. De facto, Descartes praticou o mais absoluto eclipse do Outro, caído sob a suspeita de um erro dos sentidos. E, durante quatro séculos, a tradição intelectual francesa procurou escapar a esse horror cartesiano de um Eu afundado na solidão metafísica da certeza de si enquanto ser pensante. Rousseau encheu-se de compaixão por todas as formas do Outro, desde o bom selvagem à criança do Emílio, e desde o cidadão universal ao devir-feminino de La Nouvelle Helouise. Já Sade tomou essa imensa galeria das alteridades para as profanar e, desse modo, instaurar uma nova versão do contrato social de Rousseau, onde o Outro é sem reciprocidade. Foi preciso esperar por Sartre para se recolocar a questão do Outro no centro de uma meditação sobre a existência humana. Mas aí a reciprocidade apareceu como o inferno mais absoluto. O simples olhar de alguém sobre mim tornava-me prisioneiro do seu mundo. Lévy-Strauss transformou esse inferno no paradoxo instaurador das ciências humanas. E os anos 50 e 60 da antropologia francesa alimentaram-se da promessa de uma descrição descentrada das nossas identidades europeias a partir do que seria um pensamento absolutamente Outro ou "pensamento selvagem". Nos anos 70, Lévinas fazia do Outro, não já um problema ontológico ou epistemológico, mas o dado primeiro de uma experiência ética. Ao contrário de Sartre, seria pelo facto de alguém me olhar e de instaurar em mim a obrigação por cuidar dele, que eu me liberto, que me torno um sujeito capaz de agir. Para Lévinas, eu só me constituo como sujeito moral enquanto reconheço que a existência de um Outro “me diz respeito” (me regarde).

Porém, nos últimos anos, o Outro parece ter vindo a tornar-se num conceito em desagregação. Na forma do estrangeiro ou do imigrante, o Outro é hoje o sinal do apocalipse próximo. Ele legitima novas formas de exclusão e de controlo bio-político das fronteiras. Pacificamos a nossa má-consciência de comunidades blindadas alargando o conceito de Outro até ao domínio do Animal. São vacas, cordeiros, coelhos em geral que se revelam como o verdadeiro olhar de um Outro que nos interpela eticamente do interior do mandamento “não matarás!”.

Por outro lado, no plano dos costumes, descobre-se que a forma mais pura de defender o direito a ser-Outro, é legalizar o casamento homossexual, o que implica afirmar o império do Mesmo ou do Homogéneo.

Onde estamos na questão do Outro? Ainda nos sentimos tocados por Rimbaud na sua famosa fórmula “Je est un autre”?

A Entrada é livre

Margarida Antunes da Silva
Attachée de Presse/Relations Publiques
Instituto Franco-Português
Av. Luís Bívar, 91
1050-143 Lisboa

Tel: 21 311 14 27 Fax: 21 311 14 63
margarida.silva@ifp-lisboa.com

escrito por ai.valhamedeus

0 comentário(s). Ler/reagir: