Estou sentada na esplanada de um café, na Cidade Património da Humanidade. Preparo-me para saborear uma chávena do dito, desfrutar do sol que tenta irromper por entre as nuvens, e pôr em dia algumas leituras.
Eis que sou abordada por uma mulher ainda jovem, com um saco de pegas de cozinha, a querer, em troca de 5 euros, enfiar-me na mão as ditas pegas. Recusei, dizendo que não tinha dinheiro. O que até era, em parte, verdade.
Mas ela insistia, desesperada e eu lá me forcei a verificar melhor as moedas que trazia na carteira. Contei-as na palma da mão e afinal, miraculosamente, elas multiplicaram-se. E a mulher quase me arrancou as moedas da mão e deixou lá não um par, mas três pegas por 6 euros. Um horror! Mas ela precisava urgentemente de ir à farmácia. "Por medicamentos". E lá abalou, quase a correr, pois a válvula ou o que quer que lhe tenham colocado no peito precisava de cuidados caros e urgentes.
Não percebi muito bem qual era o problema, mas pareceu-me real; a mulher era uma mulher do “povo”, devia ter à volta de 40 anos, não tinha ar de pedinte, não tinha ar de drogada!
E eu fiquei ali a vê-la afastar-se, apressada. E a pensar: para onde irá o dinheiro dos meus impostos? Para onde irão os meus mil e muitos euros, dos quais todos os meses o Governo, o meu patrão, me alivia a conta bancária? Tal como esta cidadã me aliviou a carteira de uns preciosos euros; preciosos para ela, e que a mim não me fizeram falta, a bem dizer, embora eles ali estivessem pelo facto de eu os ter regateado aquando do pagamento de uma conta assaz elevada para as “iguarias” desenxabidas que ingerira na véspera.
E foi com um sentimento de impotência que continuei a ler o artigo que dizia: "…em Sydney, toda a gente parece que bebeu o elixir da juventude eterna. Não há pobreza, não há sujidade, não há tristeza. Aqui a vida é para ser passada com um sorriso nos lábios …” blá, blá, blá …
Eu também fiquei com um sorriso nos lábios, mas não de satisfação. Com um sorriso de perplexidade, isso sim. Ou antes, de desencanto. No Dia do Trabalhador! Um sorriso de desdém perante as promessas dos nossos governantes que, ao cabo de mais de 30 anos de Democracia, ainda não foram capazes de cumprir a lei consagrada na Constituição: Saúde para Todos! Entre outras.
-- Que Deus nos ajude a todos! foi a frase que a tal mulher proferiu agradecida, perante a minha generosidade quase forçada.
Pois, que Deus nos ajude a todos!
Ámen.
escrito por Gabriela Correia, Faro
ENTRE O MITO E A REALIDADE
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
0 comentário(s). Ler/reagir:
Enviar um comentário