Abriram, ontem, as feiras do livro de Lisboa e Porto -- com homenagens previstas em ambos os sítios.
Fala-se em homenagens e a gente pensa em pompa e circunstância; mas aquelas feiras, ao que parece, não estão a despertar grande interesse. O que não me desperta grande admiração: penso neste país em que vivo
[neste Portugal de 2007 com milhares de desempregados, o nível de vida em movimento descendente uniformemente acelerado, um governo que sacrifica tudo às metas económicas...],associo-lhe a imagem do livro... e, porque as duas coisas não colam, não evito a recordação do comentário de uma personagem do "Humilhados e Ofendidos" de Dostoievski:
Vania, o narrador e figura principal do enredo, acabara de publicar o seu primeiro romance, com êxito bastante para se ter tornado um escritor de sucesso. Resolveu fazer, numa única sessão e para o casal que o criara desde a infância e a única filha deste, a leitura integral da obra. Tinha-a concluído, estavam na fase dos comentários, quando a mulher do casal, Ana Andreievna, dispara, a respeito do autor:
Dá-se-lhe parabéns e nem se sabe porquê. Escritor, poeta... Mas que vem a ser um escritor?Ouvi ao Carlos Lopes a estória da criadinha do nosso Alexandre Herculano que, sobre o patrão, confessou a um jornalista que era boa pessoa e tal... mas não queria trabalhar, passando o tempo sozinho, a ler, a escrever... em inutilidades. Ao jeito da Ana Andreievna, que insiste nas perguntas e exclamações:
-- Será possível que te pagassem tanto? A quem te conhece, afigura-se incrível. Meu Deus! Em que se desperdiça dinheiro actualmente!escrito por ai.valhamedeus
0 comentário(s). Ler/reagir:
Enviar um comentário