Para não esquecer...

AQUILINO RIBEIRO NAS ESCOLAS

Em entrevista a um canal de televisão o filho de Aquilino Ribeiro manifestou o seu pesar, ou melhor, perplexidade, por as obras do seu pai não fazerem parte dos curricula da disciplina de Português. Também eu me pergunto por que razão, não sendo todavia professora dessa matéria. Mas orgulho-me de ter lido e decorado quase na íntegra “O Romance da Raposa”, aos 10 anos! Vem a talhe de foice referir igualmente “Os Bichos” do Miguel Torga. Dois escritores extraordinários (espectaculares, como diriam 99% dos jovens alunos) que nos tornarão mais ricos se os lermos precocemente. Creio que a minha consciência cívica, social e ambiental não seria a mesma se não os tivesse lido.

O rigor de que a tutela fala não se compadece com facilitismos. Será?

Depois desta pequena introdução, transcrevo, a propósito, excertos dum texto de José Fanha publicado na revista Perspectiva.

Nem tudo na educação tem de ser subjugado à ideia de prazer

O prazer de que se fala é, geralmente, solipsista e, pior, absolutamente superficial. Se o livro é muito grande e se esse facto prenuncia uma falta de prazer, dá-se a ler apenas um resumo. Se o resumo também está longe da ideia de prazer dá-se um resumo do resumo. Se mesmo assim, o jovem não encontra prazer naquelas 10 linhas escorridas, dá – se – lhe um CD interactivo e, como é necessário cumprir o programa, acaba-se a enviar os meninos para a investigação na Net, ou seja, copy and paste, copiar, colar e imprimir (Quem não se lembra de uma personalidade da nossa praça que fez o mesmo?! E olhe lá!...).Através de sucessivas reformas tão cheias de pântanos pedagógicos como de inutilíssimas acções de formação e regulamentos cada vez mais policiais, muitos dos nossos professores têm vindo a ser transformados em funcionários públicos (…)

Ler (…) os “Lusíadas” é uma aventura que exige uma disponibilidade (e uma idade, acrescento eu) e, talvez, um esforço significativo. Mas no final, e até muito antes do final, que luxuoso prazer!

Não tenho dúvida em afirmar que a sabedoria implica paixão e o apelo a um prazer que não se resume ao efémero do momento, mas vai muito para além dele.(…)

Acender a paixão pelo saber nos seus alunos implica que o professor viva ele próprio apaixonado pela leitura, pelas artes plásticas, pela ciência, pelo teatro, pelo cinema, pela música, pelo melhor que a vida tem para nos oferecer.

No entanto, a palavra paixão não faz parte do ofício, em geral canhestro e básico, de um gestor e, hoje em dia, muitos professores arriscam-se a afastar-se cada vez mais do saber, não passando de meros gestores da aquisição de saberes descartáveis.(…)
escrito por Gabriela Correia, Faro

1 comentário(s). Ler/reagir:

Anónimo disse...

Nem mais, José Fanha...