Para não esquecer...

GLOBALIZAÇÃO

Oito horas na barriga de um airbus

[como Jonas na barriga da baleia]
dá para alinhavar muitos pensamentos.
Quando comprei o bilhete pedi comida com poucas calorias
Que sim, senhor, assim seria.
Segundo o meu cardiologista, posso comer de tudo. Mas não bebo de tudo
[só vinho tinto e um bagacinho com o café, ou uma aguardente velha, se os deuses me faltarem com o bagaço].
Por que peço então comida com poucas calorias nos aviões?
[explico e não cobrarei direitos de autor a quem copiar a ideia].
Os passageiros que viajam em classe turística
e que pedem comidas especiais
são servidos antes que o carrito da comida comece a fazer nódoas negras nos cotovelos dos passageiros pelo estreito corredor do avião.
Em segundo lugar, as comidas especiais
[as minhas preferidas são as de menos calorias e vegetarianas]
são menos más que o frango, a carne estufada ou a lasanha que servem em geral.
Mas voltemos à vaca fria: andava o carrito a martelar cotovelos há um bom par de minutos e a minha comida «especial» não chegava. Quando tive que encolher o meu cotovelo direito, e a hospedeira me fez a sagrada pergunta
[carne estufada ou lasanha?]
foi a minha vez de lhe perguntar pela minha comida especial reservada antecipadamente.
- Não temos nada reservado para o senhor.
- Mas eu reservei.
- Confirmou o pedido 24 horas antes?
- Não.
- Então já sabe por que não tem a sua comida especial.
- A ver se entendi: depois que reservei a minha comida, alguém carregou numa tecla errada do computador e limpou a minha reserva.
- Talvez.
- Entendido. E para que o incompetente funcionário não sofra, eu ficarei sem comer.
- Quer carne ou massa?
- Não quero nada. Posso passar sem esse maravilhoso jantar.
- Nesse caso aceita que lhe traga fruta e queijo?
- Pode ser – retorqui.
Meia-hora depois chegou a minha fruta
[pedaços de ananás e melão. E uma laranja inteira].
Quando me dispunha a comer a laranja, vi, bem agarrado à casca, um pequeno selo oval de papel, que dizia: «Valencia. Produce of USA».
Eureka! Acabava de descobrir o segredo da globalização.
As laranjas de Valência são famosas. Num avião da companhia espanhola Ibéria servem laranjas de Valência produzidas nos Estados Unidos da América.
Se isto não é um exemplar exemplo de globalização… vou ali e já venho.

escrito por José Alberto, Porto Rico

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