Para não esquecer...

ALCOCHETE E SÓCRATES E NÃO SÓ

Sou dos que pensam que, se um candidato a primeiro ministro é eleito com um programa e depois não o cumpre nas propostas mais emblemáticas, deve ser demitido. É para isso que deveria servir o presidente da República, apesar de Soares ter tratado de tirar poderes a Eanes, na sua sanha de afrontar o homem

(o mais sério político português do último quartel do séc. XX português, se não do século).
Sócrates apresentou-se ao eleitorado dizendo que não era preciso e que não aumentaria impostos e foi das primeiras coisas que fez. Sócrates disse que submeteria o tratado europeu a referendo, agora diz que não é necessário pois estamos face a um tratado diferente do Tratado Constitucional abandonado
(critério, o mesmo, que serviu para a Espanha não submeter o Tratado de Lisboa a referendo, por estarmos face a um tratado igual ao Tratado Constitucional e esse já tinha sido referendado em Espanha).
Assim, Sócrates diz o dito por não dito e recusa-se a fazer o referendo. Sócrates apresentou a Ota como solução para o aeroporto de Lisboa, apareceu a CIP com estudo
(pago não se sabe bem por quem)
e Sócrates mudou de opinião. Poder-se-á dizer que tais atitudes são de uma pessoa que sabe escutar, sabe ouvir e que não se envergonha de mudar de opinião. Seria assim, se não fosse outra coisa. O que estas atitudes revelam é que as ideias de Sócrates estavam erradas, estavam erradas quanto aos impostos, quanto ao referendo, quanto ao aeroporto
(e neste caso continua a estar, a Portela mais um seria a solução mais sensata).
Mas o que ele não quer, isso não, é largar o poder! Qual lapa à rocha, Sócrates manda às urtigas as ideias, as crenças, os princípios. O que o mantém “vivo” é o poder, a sua necessidade de conservar o poder. Nada mais.

As “reformas” na justiça, no ensino ou na saúde, o abandono da agricultura
(alguém mais ouviu falar em agricultura em Portugal?),
a economia agonizante, a miséria das reformas e pensões, a falta de esperança que reina, nada disso lhe diz respeito, nem o demove. E contudo são inconsequentes e denotam uma confrangedora navegação à vista. Se as movimentações populares abrandarem, Sócrates irá continuando a fazer “miséria”; se recrudescerem, apressar-se-á a fazer “marcha atrás” e a fazer o contrário.

Temos pouca tradição de lutas sindicais e persistência nas lutas populares, mas, se a revolta em relação à saúde se mantiver, vamos ver que Sócrates há-de aparecer a defender coisa diferente. É a natureza do homem.

escrito por Carlos M. E. Lopes

4 comentário(s). Ler/reagir:

Anónimo disse...

Uma resma de papel não chegará para fazer o rol das malfeitorias deste (nosso/deles) primeiro.
São as carreiras congeladas, são as malfeitorias feitas aos funcionários públicos nas várias áreas: saúde, justiça, segurança, educação, finanças, etc. etc.
Impostos e taxas a aumentar, salários a diminuir, desemprego a subir, banca a ganhar escandalosamente, pobreza a crescer...
Sim os otários, somos nós.
Isto noutro país já tinha dado bem para o torto.
Mas aqui só a criminalidade tem coragem. Já começam a atacar a tiro esquadras e postos da GNR.
Nunca se viu uma coisa assim.
Uma nova Maria da Fonte, precisa-se

Anónimo disse...

Os ministros são uns paus madados.
Estou a ouvir e ver (0.15H - SIC) o senhor Sócrates a falar de educação. Por detrás, como pano de fundo, (tipo emplastro) está a cega, surda e muda a Ministra da Educação.
Que papel mais confrangedor.

Vítor Amado disse...

Já se sabe quem pagou grande parte do estudo da CIP. O grave é que houve empresas que se "esconderam" pois temiam (temem) represálias aquando de concursos públicos.

Anónimo disse...

O que se está a passar na educação é aberrante, ultrajante e tudo o mais que se queira para adjectivar esta "nova educação".
Do que eu mais gosto é do antes e do depois deste governo: antes era o vazio, a ignorância; agora quais espíritos iluminados por línguas de fogo, caídas não se sabe de onde, é a luz, a sapiência, a excelência, e todos os substantivos existentes e a existir.
Não há pachorra! E não se pode exterminá-los!...

E o que se passou na educação, passou-se na semana anterior com o Ministro das Finanças a "soprar"literalmente no ouvido de Sócrates enquanto o Primeiro Ministro ia debitando o seu discurso

Gabriela