Há muito que tinha posto de lado este texto para o transcrever. Tinha, todavia, desistido pensando que já teria perdido actualidade e pecaria pela repetição dos conceitos.
Mas hoje, agora que terminou a Presidência Portuguesa da UE, e uma vez que, passado o testemunho a outros, Sócrates terá de se virar para o “País Real” (tal como o Ai. Valhamedeus até tremo quando penso que vão equacionar o meu “problema”), creio que continua mais actual que nunca. Por conseguinte, consequentemente, et pour cause, etc.…
Onde encontrar a felicidade numa sociedade extremamente competitiva, cada vez mais selectiva e insensível em relação aos mais fracos: velhos e doentes?escrito por Gabriela Correia, Faro
Nas empresas privadas já praticamente não têm lugar, e o mesmo se perspectiva para o serviço público. O darwinismo social impera e a lei do mais forte define não só as regras da sociedade como vai impondo uma moral que privilegia a inteligência superficial, destituída de qualquer sensibilidade, o pragmatismo, a supremacia dos números e dos factos visíveis em detrimento dos conteúdos e dos verdadeiros significados. No poder, os políticos acabam por governar de acordo com os grandes interesses económicos e financeiros, reduzindo a quantitativos e ao comensurável aquilo que não se pode medir dessa maneira, como as políticas de saúde, da educação e do apoio social. Nesta tarefa de americanização de uma sociedade com uma história estruturalmente diferente daqueles que nos são apontados como exemplos a seguir, reduz-se Portugal a uma máquina sem sentimentos nem raízes históricas, pronta para receber dinâmicas económico-sociais que nada têm a ver com a especificidade portuguesa. Negando-se a cada momento tudo aquilo que nos faz ser diferentes (mas não a cuspir para o chão e a deixar o cãozinho fazer as necessidades mesmo à frente da porta da casa de cada um, digo eu) dos outros e marca a nossa presença no mundo, mesmo que algumas dessas características apresentem defeitos.
De facto, a mentalidade nacional não está preparada para receber um neoliberalismo de raiz nórdica, pela simples razão de que a evolução dos acontecimentos e das transformações sociais, entre uma Europa protestante, burguesa e direccionada para o dinheiro, e uma Europa católica, clerical, moralmente penalizadora do lucro e de riqueza assente essencialmente na terra, apresentam diferenças profundas e, em muitos casos, incompatíveis.
Aos políticos e economicistas falta conhecimento da História e essa lacuna irá gerar anomalias de efeitos perversos para a sociedade portuguesa, cujos sinais já são detectáveis na forma como as famílias lidam com o dinheiro, com o investimento e com a competição desenfreada, tornando o homem português num ser perdido, sem referências e mimético, por se estar a afastar cada vez mais da sua essencialidade cultural e lhe ser impedido de evoluir com naturalidade no âmbito do seu contexto histórico-cultural.
Paulo Frederico Gonçalves. In “Página da Educação” – Abril de 2007
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