Para não esquecer...

AVALIAÇÃO E ETIMOLOGIA

Ando há muitos anos relacionado

[por imposição que não por gosto]
com esta coisa chamada avaliação, de alunos e de professores.

Ao avaliar o tema da avaliação em Portugal tropecei e escorreguei frequentemente na questão semântica e etimológica. Por um lado a frequência com que as vítimas diziam que nesta história «algo fedia»
[o intercâmbio de vogais pode descrever perfeitamente a realidade complexa];
e depois ao ver as auto-apresentações prévias às arengas da equipa ministerial da avaliação.

Não era preciso escarafunchar muito para se sentir o fedor. E tudo nestes funcionários
[porque cobram, não porque funcionam]
é tão intelectual, tão livresco, tão tesado
[sacado a propósito e a despropósito de uma sacada de teses]
e tudo impingido com tanto tesão que, de repente, entendi a tão importância que tem para eles que os apresentem como pedagogos
[palavra que identifica plenamente a sua pessoa e a sua acção].
Esta palavra
[que muitos pensam que vem do longínquo grego]
é composta da palavra latina «peditu»
[>peitu> peido (>pedo)]
e gogo.

A parte de significado contido no tão generalizado e popular «peido» é fácil de entender e tem a sua máxima aplicação quando estes modernos cavaleiros das mesas-redondas televisivas aproveitam a exposição pública para expandir os seus gases ministeriais e secretariais; quando dão expressão pública à sua flatulência diplômica. Como se não bastasse, são manifesta e claramente... pedantes.

A porção de significado incrustado em «gogo» é muito mais interessante e torna altamente coerentes estes paladinos da avaliação. Vejamos como lhes assentam como luvas de seda.
  1. Gogo é um sub-género de punk, aparecido na década dos 70
    [quando a maioria dos funcionários da avaliação se queixavam de não ter o famigerado 19 para entrar em Medicina e tiveram que matricular-se em cursos de Pedagogia para os quais só precisavam de um 9,5]
    marcado por um ritmo sincopado e com muita percussão
    [de aí a sua permanente necessidade de andarem sempre à pancada aos professores].
  2. Segundo o Dicionário da Real Academia Espanhola «ter algo a gogo» quer dizer que «basta querê-lo para satisfazer os seus desejos». Basta ouvi-los. Basta ler as suas cartas-circulares. Basta ver como usam os seus chascos tendo os professores como alvo, para saber o que é um «peido a gogo».

  3. Relação com a palavra francesa gogues
    [alguém duvida que sempre fomos uns perdidos galicistas e que alguns funcionários da avaliação estudaram um par de semestres na França?]
    palavra argótica que significa «casa de banho, retrete» para criar uma unidade semântica entre as duas partes da palavra composta, como está bem de ver.

    E para completar o quadro descritivo dos nossos heróis da avaliação, «être en goguette» significa... ter uns copos a mais.
Espero que o leitor possa compreender melhor a acção de uns funcionários que, à falta dos bons resultados de uma objectiva avaliação de procedimentos didácticos adquiridos numa escola e registados numa folha longa e limpa
[muitos deles são professores fracassados, desalentados e vítimas do sistema escolar que temos e promovidos à custa de padrinhos políticos e académicos]
aclamam, reclamam, exigem e impõem
[a avaliação],
desde o pódio onde entronizaram e fazem ouvir
[com retumbância nacional]
a sua flatulência ministerial.

escrito por José Alberto, Porto Rico

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