Para não esquecer...

O NOJO DO GOVERNO

É preciso dar ao governo um período de nojo, até para conferir em que matérias está disposto – por uma vez – a negociar. Enquanto isso, vamos conferindo o comportamento das margens. Marcelo, na homilia de Domingo, foi elaborando o sermão de modo a que os laicos fossem entendendo uns pingos da religião. Vitorino, qual padeira do Rato, foi falando da qualidade da sêmea e, de tal modo foi ouvido na Pedreira, que o secretário de estado do empreendimento já veio declarar que não, que não senhor, que não recuava e justificou-se vagamente com a ameaça velada do sacrifício dos professores contratados, da progressão e da legalidade penhorada. Suspender, não e não! O Vitalino
[uma variante vital, mas no activo],
já declarou que o que vai acontecer já estava previsto: a flexibilidade, o ritmo de cada escola; nós é que estávamos a tirar a cera dos ouvidos e não ouvimos suas eminências reverendíssimas. A toda esta gente que não recua, porque isso faria mal ao governo, vamos, calmamente, explicar que é 100.000 mil vezes preferível que faça mal ao governo em vez de hipotecar o país num dos seus fundamentos: o ensino; a educação.

Maria de Lurdes Rodrigues ministra da educaçãoSenhora Ministra, embora os seus decretos e despachos estejam num eduquês suficientemente cifrado e encriptado
(enquistado!),
não contribua, com a candura dos temerários, para que se nos cole uma imagem de ileteracia, desleixo e incompetência que de todo rejeitamos. Poupe o nosso dinheiro e poupe-nos ao espectáculo da construção de um documento de sete páginas para nos ensinar a ler a propaganda de um diploma da avaliação. Sabemos muito bem o que a move: quer resultados; quer torturar a estatística até que ela confesse que nós, sim nós, somos os responsáveis pelo abandono e pelo insucesso escolar; quer afunilar a carreira docente; quer dividir artificialmente
[e chama-lhe mérito]
os professores em titulares e outros
[que nunca mais sairão da posição que ocupam];
quer poupar dinheiro e inventou este ardil da avaliação-que-nunca-se-fez!
[Para virar todos contra todos].
Mas uma socióloga, ainda que ministra, devia saber que a montante da escola, e até a jusante, existem variáveis que explicam o porquê. Mudem de política; defendam o estado social; reactivem a solidariedade; corrijam os impostos; façam um esforço de contenção nas vossas sumptuárias despesas supérfluas e verão que não é necessário fazer dos professores os bodes expiatórios da vossa canhestra inaptidão para o bem comum.

Neste período de luto gostaríamos que os governantes, que hão-de governar bem menos tempo do que eu serei professor, considerassem, ao menos por uma vez, que, quando vissem, por perto, um microfone, se escusassem a falar dos professores, do ensino ou da educação, por algumas muito boas e simples razões:
(i) nada melhora no país se se continuar a instigar, na população menos esclarecida sobre a orgânica do ensino, o recorrente ódio aos professores, mesmo se precedido do dispensável corolário da "compreensão" e das mãos erigidas ao céu;

(ii) Embora o pm tenha corrigido a semântica do seu discurso, ainda falta acrescentar, como trabalho de casa, que-os-professores-sempre foram-avaliados;

(iii) nas "perguntas e respostas", que o ME mandou distribuir sobre a avaliação, pelos néscios, estão por lá incorrecções e desencontros com a verdade dos factos. Desde logo a resposta à segunda pergunta é incorrecta. Integrei uma das equipas de avaliação de professores (e conheço a legislação), posso afirmar que alguns professores não progrediram, muito menos automaticamente, e que a ausência de regulamentação de outra menção, além de suficiente (que de nada servia), deve-se exclusivamente à tutela, a que de resto o pê-èsse não é alheio;
Fique a ministra em casa ou na rua, ande a banhos pela Curia ou pela Escola da Ponte, pode tomar nota de que, ainda que não recue, nós estamos dispostos a avançar.

Fundamentalmente por uma questão de brio e dignidade;

Essencialmente porque não estamos dispostos a consentir e a aturar aquilo que o pm, ministra e secs potenciam: o ódio e a violenta verbalização
(ai Leiria!)
de Rangel e Ferreira, que um qualquer porta-voz do ME, principalmente A. Santos Silva, essa incontornável figura de antifascista, revelada em Chaves, devia igualmente combater;

Claro que "não há jantares grátis" e, neste molho que o "Correio" transporta, lá está o Sousa Tavares, o director do Expresso, os padrinhos e o Madrinha, tanto faz; o JN, pelo bisturi do seu director e adjunto, também desacertam o passo na leitaria e, entre moinhos e fantasmas, não querem ver; preferem ficar perto do telefone desesperando pelo dia do pagamento de tão prestimosos serviços. São incontáveis os assessores, “spin-doctores” e quejandos,que, à mesa do orçamento, congeminam estes trabalhos menores
(ou maiores, tanto faz).
A senhora e os senhores do ministério bem como os companheiros do governo bem podiam repesar o andamento e, num laivo de discernimento, tão raro, por essas bandas, reflectir sobre o seguinte enunciado – mesmo antes de se conhecer qualquer resultado desta contestadíssima avaliação, a consequência é um verdadeiro desastre: conseguiram espalhar lama para cima de todos, sem excepção! Conseguiram que muitos dos melhores profissionais, de calculadora em punho, andem incansavelmente a fazer contas para a aposentação. Esse contributo era desnecessário, porque o prejuízo
[e o défice]
vai direitinho para a escola pública e para os que mais nos movem: os alunos. Os professores que dedicaram uma vida inteira à nobre missão de ensinar gostariam de abandonar a escola, onde foram felizes e se sentiram realizados, sem mágoa e sem pública humilhação; é um direito que lhes assiste e ninguém deveria perturbar
[muito menos a tutela],
esse pequeno nada, que faz toda a diferença.

Podem estar certos, numa democracia representativa, não se pode hoje apelar à participação do cidadão e, logo a seguir, demonizá-la. A saúde democrática, fundamentalmente quando uma maioria absoluta se tresmalha no reiterado autoritarismo e no cercear rente dos direitos, liberdades e garantias, defende-se na rua. Se continuar a ser preciso, ajudaremos a reconduzir, com dignidade, este pê-èsse à democracia.

Querem-nos na rua, vão ter-nos na rua!

As contas que mais se fazem é quantos seremos na próxima. Continuem, até a população que, com tanto esmero propagandista, têm virado contra nós vos há-de também abandonar.

Está escrito!

escrito por Jerónimo Costa

2 comentário(s). Ler/reagir:

Anónimo disse...

De novo, parabéns Jerónimo por mais esta excelente bofetada no governo xuxialista.

vitor m

Anónimo disse...

A profecia do último parágrafo vai tornar-se realidade.É a natureza humana!Este governo é pouco sensível à Sabedoria ( é produto que parece não abundar por aquelas bandas). Quem com ferros mata, com ferros morre. O texto do Sr. Prof. Jerónimo já corre por aí. Os da governação deviam lê-lo e reflectir(saberão??)