Para não esquecer...

A PROFESSORA AGREDIDA

Sou exterior ao que se passou no Carolina Michaelis: não sou aluno nem professor e não sei o ambiente que se vive dentro das paredes de uma escola. A minha opinião é, pois, a opinião de um ignorante, mas de alguém a quem a escola deve preocupar.

Em primeiro lugar quero dizer o que vi

(ou como vi)
no filme passado nas TVs e no youtube. Uma professora com telemóvel na mão (?) e uma aluna a querer tirá-lo, gritando “dá-me o telemóvel”. A aluna estava desesperada e a professora mostrava-se determinada e calma, envolvendo-se numa luta corpo a corpo com a aluna, luta com ligeira vantagem para a professora. Os restantes alunos riam e um
(pelo menos)
filmava. Os circundantes que riam pareciam tirar grande gozo do acontecido.

Desde logo, o que se passou naquela aula do Carolina Michaelis é o reflexo do que se passa na sociedade e é a rua que está ali. Filhos a agredirem pais não é assim tão estranho. E as escolas terão que reflectir isso. A autoridade tradicional que havia na minha escola não existe, nem tem necessariamente de existir. A falta de respeito pelo professora não era da aluna, ou principalmente da aluna, que estava visivelmente emocionada, diria mesmo, histérica. Não, o que mais me impressionou foi a calma, indiferença e distância dos outros alunos. O gozo que retiravam do que estavam a ver e o desprezo que mostravam pela professora e mesmo pela colega. Tudo o que se estava a passar era uma coisa de que estavam a tirar um enorme gozo e os divertia imenso. Isso, sim, foi o que mais me chocou naquela cena de violência. Não foram os protagonistas principais, mas a assistência. Aquilo que representa de indiferença, de falta de consideração pela escola e pelo seu papel na sua formação.

Já agora, a atitude da professora
(isto será para os pedagogos, a quem cabe responder).
É correcto tirar o telemóvel à aluna? Mesmo admitindo que a aluna não reagia, a professora deveria ter tirado o telemóvel à aluna? Nos tribunais, quando a assistência se comporta mal, os juízes
(que não são grande exemplo no campo de prepotência),
avisam e, se tal não surte efeito, mandam sair
(nem sempre delicadamente)
o perturbador para fora da sala. A “apreensão”
(no que isto tem de prepotência e abuso de poder)
de objectos pessoais nunca deveria ter lugar. É que corremos o risco de cometer uma falta maior do que aquela que queremos evitar.

PS – No JL desta quinzena há uma entrevista com o professor Domingos Fernandes, responsável, parece, pelo método de avaliação dos professores. Mais uma vez diz que somos
(todos, de onde deduzo que também ele)
resistentes à mudança. Segundo sei, os professores não se opõem à avaliação, mas sim à precipitação com que esta está a ser introduzida. Por outro lado, recorre-se sempre à malfadada resistência e reaccionarismo dos visados, querendo fazer passar a ideia de que o governo é progressista e os professores
(e outros visados)
são meros defensores dos seus privilégios e direitos corporativos. Uns canalhas, em suma. Como se sabe, a TAP tem conseguido resultados positivos com guerras estéreis com os seus pilotos e restante pessoal...


escrito por Carlos M. E. Lopes

3 comentário(s). Ler/reagir:

Anónimo disse...

ó Carlos Lopes, valha-o Deus: a comparar um tribunal e adultos, com uma sala de aula de alunos menores.
Não sei o que se terá passado antes, ou quantas vezes a professora terá avisado a aluna, mas ,por vezes, os alunos exasperam os professores (tal como exasperam os pais)pois não estão habituados a um não, a uma contrariedade.
A professora não me pareceu calma, pois a ser assim, teria posto a aluna na rua. Isto é, se ela obedecesse.
Mesmo que à professora não assista o direito de "tirar" o telemóvel à aluna, nada, mesmo nada, justifica aquela atitude. À aluna assiste igualmente o direito, já que estamos em matéria de direito, de se queixar da prepotência, se prepotência houve, da professora.
O problema é que os pais querem que lhes tomemos conta dos filhos e depois negam-nos a autoridade. Sabe porquê? É que eles, pais, também já a perderam.
Concordo consigo quanto à atitude dos colegas. Mas são apenas crianças malcriadas sem regras, tal como a casa de onde provêm. E seguem tão só as pisadas de quem desrespeita os professores, a começar pela Ministra que nos chamou "professorzecos. Mesmo que tenha em mente apenas alguns. Num país a sério já se teria demitido ou já teria sido demitida.
Gabriela
P.S. Isto não invalida os alunos, e são muitos, que continuam respeitosos, como no seu tempo e no meu.

Anónimo disse...

Quando terminamos a comparar coisas que não são comparáveis corremos o risco de dar razão aos prevaricadores.
Uma sala de aula não é uma sala de audiências.
Está visto que o meretíssimo tem outras formas de exercer a sua autoridade, mas nem sempre, e também não está livre de levar umas bofetadas ou de ser roubado no próprio gabinete.
A professora mostrou coragem. Louve-se a atitude.
Critique-se a aluna e os colegas a revelarem uma enorme falta de solidariedade tanto em relação à colega como à professora.
Infelizmente, o retrato da sociedade.
Perante um asslto ou uma agressão já não há homens ou mulheres com tomates para irem em defesa do agredido.
Todos se encolhem.
O campo está livre para os marginais / malfeitores.
Mesmo a frio ainda há quem encontre atenuantes e justificações para actos ignóbeis.
Talves defeito profissional.
Maria José

Anónimo disse...

Vamos ver como o governo reage.
Gosto muito de ver este governo a reagir.
A ASAE encerrou e multou os SuperMercados por incumprimento de uma lei do tempo do inesquecível Guterres, Sócrates reage com uma nova lei, que vai permitir aos Super estarem abertos quando e como quiserem.
É o regime dos chineses aplicado às grandes superfícies.
Os grandes e poderosos cada vez mais estão ao lado do governo socretino.
Vamos ver como reage com a professora desautorizada e agredida física e verbalmente.
Sim, eu não esqueço que uma professora é o elo mais fraco...
A "sinistra" já começou a dizer que a culpa não é do "estatuto dos alunos".
Começa bem.
Está a um passo de levantar um inquérito à professora por querer confiscar (mesmo que provisoriamente) um bem da aluna.
E se não for castigada ainda vai ter muita sorte.
secretáro do que a isto chegou