Para não esquecer...

UMA SEMANA DE OURO, OU DE FILIGRANA

Está em marcha uma imparável semana de propaganda política que, numa inabilidade incompreensível, reincide, de novo, na diabolização dos professores, elegendo-os como o bode expiatório do que corre menos bem na sociedade portuguesa.

Ontem, o JN, num anúncio de página inteira dava o mote no acerto das hostilidades. Naturalmente um anúncio pago com o dinheiro espoliado aos professores e a outros trabalhadores da administração pública que, indecorosamente, viram as suas carreiras congeladas e os seus vencimentos degradados.

Hoje, a partir de um relatório da IGE (Inspecção Geral de Educação) a ministra, ela própria, apresenta resultados amplamente satisfatórios do desempenho da escola em vários quadrantes da sua actividade. E, sem ultrapassar o essencial, valia a pena abrir parêntesis e perguntar: se assim é, para quê tanta azáfama e tanta pressa em implementar medidas que, mais pelo modo e não tanto pela substância, tanto prejuízo de imagem estão a causar aos profissionais da educação? Há-de existir razão de fundo para um acerto de contas que não coibiu o poder político (?!), ainda ontem, de montar um novo ”Prós e Contras” que voltou a correr mal apesar da insistência da jornalista, incansável, ora como porta-voz do ME, ora como aflita angariadora de apoios para a tutela. João Lobo Antunes, sempre lúcido, para além de comparar o organigrama da avaliação de professores ao gráfico do metro de Londres, deixou claro que a corporação dos professores, tal como a dos médicos e a dos juristas, são um pilar das sociedades e não podem, com o desplante que se conhece, ser alvo da desconsideração e do desrespeito com que os professores têm sido tratados. Vilaverde Cabral, um sociólogo comentarista, também deixou claro, na sua análise, que era necessário alterar procedimentos, compreendendo a escola e os desafios que, diariamente, se colocam aos professores.

Naturalmente resulta deste “frete” que a televisão pública (e a jornalista) prestou (?!) ao governo, repetindo o mesmo programa, para obter resultados diferentes, uma conclusão óbvia: seria preciso um terceiro programa, convidando, desta feita, os assessores e alguns jornalistas que a esmo e sem critério, diariamente são injuriosos por ignorância (muitos), por despeito (alguns), por inveja (bastantes) e por interesses inconfessados (os necessários). A coordenar esta falange de apoio a MLR podiam convidar Vital Moreira. Sendo professor é um apaniguado defensor de tudo o que paira no governo, ou por comunhão de bens, ou por insuficiência de manobra mental. Hoje mesmo (4 de Março), no Público, onde tantos escrevem lucidamente sobre a educação, o ensino e o conflito que opõe os professores à tutela, VM optou, reiteradamente, pela posição do alinhamento e do débito de argumentos ofensivos – porque em conflito com a verdade – contra os professores. Esta eminência, que já foi parda, podia muito bem, em matéria de avaliação, mostrar o modelo pelo qual é avaliado na sua universidade, fundamentalmente o parâmetro do absentismo e dos descritores de avaliação com que classifica os seus alunos. O povo, mesmo o que não é do ps, ficar-lhe-ia bem grato. O mesmo convite apetece fazer à jornalista Fátima Campos Ferreira (vagamente professora numa qualquer instituição do ensino superior). Em dois programas sobre avaliação daria um decidido contributo para a compreensão da “coisa” se, num laivo de inspiração, fosse capaz de nos mostrar:
- Olhem para mim, como eu fui avaliada.
Ficaríamos então a saber os parâmetros e a menção que tal profissional carrega naquela figura, tão ágil a encontrar os outros e tão lerda a dar-se como exemplo. Porque o exemplo conta!

Mas, continuando a avaliar as iniciativas governamentais, sem grande margem de equívoco, é possível afirmar que o recente conclave das “Novas Fronteiras” nada de importante produziu, a não ser a ressuscitação de Manuel Maria Carrilho que, à semelhança de Ana Benavente, resolveu indignar-se com o que observa no sector da educação. O segurança de serviço, o inefável Lemos, resolveu acertar na camarada e, inadvertidamente, no ministro da altura, um tal Santos Silva, que ainda é ministro. Pelas contas e apurados os dividendos o ps sente necessidade de convocar um comício de apoio ao governo. Será no Porto e, desde o PREC, que não me recordava de uma tal necessidade. O ps (este), que convive mal com a rua (e compreende-se, a rua está perigosa!), quer também aí medir forças, no Norte. Pena não ser em Gondomar porque, pelo menos, todos haveriam de levar uma prenda (como os árbitros), poderia acrescentar Valentim, que um dia gritou por Guterres e não se importaria de gritar por qualquer outro. Pena que a ministra, embasbacada com o veneno, não tivesse tido a bravura de devolver a caravela. Aí sim, seria coragem; o resto não passa de teimosia disfarçada de necessidade.

Acabo de ouvir na TSF o Arsélio Martins, que conheço de outros tempos e das mesmas lutas. Na sua bonomia e no seu optimismo promete ir a todas e mudar, pela sua capacidade de influenciar, o que é preciso mudar. Sei que o fará e, como ele diz, sei que virá embora quando descobrir (como vagamente já descobriu) que este processo está inquinado pela falta de seriedade. Esperemos que ele consiga. É mais uma oportunidade. A TSF ouviu-o, nós estaremos atentos.

Nesta semana em que os “Spin-doctores” e os assessores vão dar tudo por tudo para travar a nossa ida a Lisboa é preciso expressar, sem rodeios, o que queremos como profissionais e o que estamos dispostos a fazer na defesa da escola pública:
  1. Queremos continuar a ser avaliados;
  2. O novo modelo de avaliação (qualquer que ele seja) deve ser experimentado, antes de ser implementado;
  3. A avaliação e diplomas afins não devem perturbar o normal funcionamento das escolas e, não havendo premência, como não há, a sua implementação deve fazer-se no princípio do ano lectivo
  4. A avaliação deve decorrer, sem burocracias, evitando que o professor viva para e da avaliação.
  5. Queremos uma avaliação formativa e não punitiva;
  6. Não queremos quotas para qualquer das menções atribuídas;
  7. Deploramos a divisão artificial da carreira em professores e professores titulares;
  8. Deploramos o concurso também pela arbitrariedade que o norteou, quando passou a ideia do mérito;
  9. Não abdicamos da gestão democrática, por um único argumento: a escola, enquanto pilar da democracia, não se confina com uma gestão não democrática, passível de ser ocupada por comissários políticos, remetendo ainda mais o país para práticas de favor e de corrupção;
  10. Não vemos qualquer inconveniente na cooperação e colaboração com os pais, que de resto desejamos;
  11. Queremos discutir o novo estatuto do aluno que, em muitos dos seus aspectos, reduz a autoridade dos professores e desacredita a escola;
  12. Consideramos que é preciso renovar o debate em torno das aulas de substituição que, tal como funcionam, degradam o conteúdo funcional da profissão e não acrescentam nem valor nem qualidade à formação do estudante;
  13. Contestamos vivamente a reforma no ensino da música;
  14. Consideramos que o diploma sobre o ensino especial deve ser revisto para que responda convenientemente aos anseios dos alunos e não sacrifique, sem vantagem para ninguém, os professores;
  15. Denunciamos o acréscimo de inumeráveis tarefas que, de forma inglória, deixam os professores exaustos para aquilo que de mais nobre tem a sua profissão: ensinar os alunos.
escrito por Jerónimo Costa

3 comentário(s). Ler/reagir:

pn disse...

Excelente texto, JC!
Bem aduzidas razões!
Consubstanciação sem mácula!
pn

Anónimo disse...

Todos a Lisboa no dia 8 de Março.
Mostrar toda a nossa indignação á dona da avaliação.
Como se os professores antes não fossem avaliados.
Grande hipócrita.
A avaliação deve ter como filosofia melhorar as práticas lectivas.
Esta dona não sabe o que isso é.

professor sénior
(mais um título acrescentado pela dona para atirar poeira para os olhos da opinião pública)

Anónimo disse...

Permite-me só discordar do ponto 2 da lista de reivindicações final: este modelo de avaliação do desempenho docente é tão mau, irrealista e encerra uma série de orgânicas perversidades, que nem testado merece ser - «o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita», e duvido que uma legislação emanada da mente de ignorantes possa alguma vez ser plausível, nem como mera experimentação! É preciso ter a coragem de o assumir: é o próprio ECD que merece ser abolido...
Abraço,
ALM