Não tenho opinião sobre o acordo ortográfico: não o li, não o conheço senão em pormenores… Contudo, ainda não ouvi um único argumento contra que me convencesse.
- Diz-se que o acordo é inconstitucional porque, contrariando o disposto na Constituição, não preserva a língua portuguesa. Então, pergunto eu, uma língua, como qualquer entidade viva, por se renovar perde-se
[ou, bem pelo contrário, ganha nova vida]?
- Diz-se que as alterações propostas podem conduzir a alterações na pronúncia. Dupla falácia
[ou duplo sofisma?],
digo eu[para além de não estar provado que as alterações na pronúncia sejam em si
Graça Moura dá o exemplo de “adopção” que, escrita “adoção”, poderá vir a pronunciar-se “adução”. Não viesse o exemplo de quem vem, e eu pensaria tratar-se de anedota.
negativas].
Ponto um: desde quando os falantes alteram a pronúncia por via da alteração da escrita? Não é, inversamente, a ortografia, notação da fala -- e, enquanto tal, um artifício?
Ponto dois: desde quando é a língua portuguesa uma entidade onde a relação entre fala e grafia é o reino da lógica, onde modificações da segunda seriam causas de modificações da primeira? Para utilizar alguns exemplos: onde é grafada, em “sede”, a diferença entre a pronúncia “séde”[a sede do Partido A]
e “sêde”[sede de água]?
- No meu leigo entender de escrevinhador, qualquer código ortográfico deveria respeitar os princípios da simplicidade, da uniformidade lógica e da fidelidade à língua falada. Assim, não faz sentido escrever “baptizado” quando se fala e se lê “batizado”
[e não se diga que a função do “p” é “abrir” o “a”, como se sem “p” o “a” se
“fechasse”: tudo isto são convenções]. - Conclui-se, dos princípios enunciados, a impossibilidade de um acordo ortográfico entre os vários países de língua portuguesa? Provavelmente. Não faz sentido portugueses e brasileiros acordarem, por exemplo, na alteração de “facto” para “fato”, pela razão simples de que os portugueses de facto dizem “facto”
[a par com “fato”],
enquanto os brasileiros falam “fato” e não "facto"["desconhecendo" o nosso “fato”, que substituem por “terno”].
- Estaremos condenados, a longo prazo, à criação de tantos “português” quantos os Estados
[para não encarar já a hipótese da multiplicação de línguas dentro de alguns
Possivelmente, de modo inevitável – e não creio que o fenómeno seja evitável por via de qualquer acordo ortográfico: afinal, repito, inevitavelmente os falantes recriam a língua independentemente de tais acordos.
Estados]? - Uma nota final para uma discussão que entendo mesquinha: a de saber quem
[quero dizer, Portugal ou Brasil],
no acordo presente, fica a ganhar. Entretenham-se os políticos com esses jogos!... Entretanto, promovam os políticos portugueses a sua língua pelas vias verdadeiramente eficazes.
escrito por ai.valhamedeus
5 comentário(s). Ler/reagir:
Dou-lhe inteira razão nos exemplos que aduziu. Mas lá que custa a gramar escrever adoção, custa. Continuarei, porém, a escrever como sei, caso contrário fico toda baralhada. Afinal ainda tenho 5 anos para me aclimatizar! E hei-de continuar a dizer bicha, lá isso...
Gabriela
Que não se interprete o que acima escrevi como não sabendo o que é um acordo ortográfico, tal como o Sr. Miguel Sousa Tavares que, por perceber "muito" de tudo, não percebe nada de nada. O exemplo que dei da palavra bicha vem à baila por causa de quem ganha na batalha do acordo: Portugal ou o Brasil. É que em termos de diversidade linguística já ganhou o Brasil!
Até o emérito Prof. Universitário de Português Carlos(esqueci-me do apelido; é o Alzeimer!)deu como exemplo do enriquecimento da língua portuguesa o facto(ou será fato?)"de que hoje em Portugal já ninguém diz bicha, mas sim fila!
Gabriela
Oi
O exemplo do "p" é muito bem trazido à colação.
Essa do "p" abrir o "a" até me parece um bocado pornográfica, mas enfim, aceitemos os gramáticos.
Seguindo a lógica do "p" abrir (ou desvirgindar) o "a" qualquer dia estariamos cheios de "paptos" "praptos" "caplos" etc. etc.
Prá frentex com este simplex.
Se conseguir ler as primeiras palavras o cérebro decifrará automaticamente as outras...
3M UM D14 D3 V3R40, 3574V4 N4 PR414, 0853RV4ND0 DU45 CR14NC45
8R1NC4ND0 N4 4R314. 3L45 7R484LH4V4M MU170 C0N57RU1ND0 UM C4573L0 D3 4R314, C0M 70RR35, P4554R3L45 3 P4554G3NS 1N73RN45. QU4ND0 3575V4M QU453 4C484ND0, V310 UM4 0ND4 3 D357RU1U 7UD0, R3DU21ND0 0 C4573L0 4 UM M0N73 D3 4R314 3 35PUM4..
4CH31 QU3, D3P015 D3 74N70 35F0RC0 3 CU1D4D0, 45 CR14NC45
C41R14M N0 CH0R0, C0RR3R4M P3L4 PR414, FUG1ND0 D4 4GU4. R1R4M D3 M405 D4D45 3 C0M3C4R4M 4 C0N57RU1R 0U7R0 C4573L0. C0MPR33ND1 QU3 H4V14 4PR3ND1D0 UM4 GR4ND3 L1C40;
G4574M05 MU170 73MP0 D4 N0554 V1D4 C0N57RU1ND0 4LGUM4 C0154 3
M415 C3D0 0U M415 74RD3, UM4 0ND4 P0D3R4 V1R 3 D357RU1R 7UD0 0 QU3 L3V4M05 74N70 73MP0 P4R4 C0N57RU1R. M45 QU4ND0 1550 4C0N73C3R 50M3N73 4QU3L3 QU3 73M 45 M405 D3 4LGU3M P4R4 53GUR4R, 53R4 C4P42 D3 50RR1R!! S0 0 QU3 P3RM4N3C3 3 4 4M124D3,
0 4M0R 3 C4R1NH0. 0 R3570 3 F3170 D3 4R314.
E o acordo aqui vale ou não vale?
Os acordos não preservam nem unificam as línguas. A história do acordo ortográfico parece uma anedota. Os «acordistas» dizem que a desgraça do Português é a falta de um acordo. Deve ser por essa razão que hoje quase ninguém entende nem fala o pobre inglês tão des-acordado.
E como o Espanhol é a língua mais «acordada» do planeta, quando um espanhol for ao México, à festa de anos da prima, que diga a gritos que quer «coger el bizcocho» da aniversariante, como sempre faz na sua natal Madrid!
J Alberto
Enviar um comentário