Não sendo o ai.valhamedeus, só agora reparei na opinião do Vítor M. sobre o filme O Sabor da Melancia. A minha sugestão era irónica; era o contraponto do texto do ai.valhamedeus sobre o dito fruto; era o contraditório, digamos assim.
Não sendo, todavia, crítica de cinema, mas sim aficionada indefectível da Sétima Arte, que deixou de o ser aquando da descoberta americana das suas possibilidades de Indústria, atrevo-me a fazer aqui uma recensão do dito. Na minha opinião, (ia escrever pessoal, numa imitação do abugrado e abugrante palanfrório televisivo) se é minha, já é pessoal! Bem, na minha opinião o filme, o qual não levaria para a tal ilha, tanto mais que também trata de um tema que me confrange a alma: o da venda do corpo. Sem moralismos de qualquer recorte; levaria, ao invés, todos os do Woody Allen se a ilha não se afundasse com o peso, mesmo os mais recentes desancados pela crítica, o filme, dizia eu, não é de fácil leitura. Tem inúmeras leituras e, no meu caso, primeiro estranha-se e depois entranha-se. Para mim, não é um libelo contra a indústria de filmes pornográficos. É antes uma crítica à sociedade moderna: a da solidão no meio de tanta gente, a da realidade virtual, a dos afectos servidos em pacote, como as férias, em suma, a do consumismo desenfreado. E também, e principalmente, a manipulada pela tecnologia da informação. Todos temos a ilusão de que somos nós quem escolhe, e em liberdade; de que somos nós quem decide e traça rumos. Helas! Não é bem assim. Somos todos “comidos” (e penitencio-me já do uso da metáfora brejeira, pedindo desculpa ao putativo leitor) por esta parafernália melíflua, indutora de comportamentos e consumos. E pensamos que esta é que é a realidade! É somente virtual. A não ser assim, como se justifica que o realizador continuasse a filmar o acto com uma heroína (heroína, sim. A necessidade obriga a vender a alma ao diabo. Neste caso o corpo; e como figura no actual logótipo deste blogue: ninguna…) já cadáver? Não foi exclusivamente, no meu ponto de vista, por razões de dinheiro. De mercado, nas sociedades modernas. Claro que essa é a razão do realizador dos filmes porno, dentro do filme. Mas a do realizador do filme “O Sabor da Melancia” é outra. A que atrás ficou amplamente explanada.
Pois é! A melancia tem sabor amargo. Tal como a Big Apple é representada com um bicho a sair da dentada. Deixou de ser uma maçã sadia.
O Paraíso também tem a sua serpente! Tudo tem o outro lado oculto. Lunar, se quiserem.
E por falar em Paraíso, recomendo o mais recente trabalho de Olga Roriz intitulado precisamente “Paraíso”. Este também não é um paraíso, como se verá.
Previno já, uma vez que as minhas recomendações não são lá essas coisas, de que quem estiver à espera do habitual, não vá. A menos que queira imitar os espectadores do Porto, no filme de que se falou.
escrito por Gabriela Correia, Faro
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