Para não esquecer...

ADULTOS VERSUS ADOLESCENTES

Conflito escolar em Buenos Aires Escola e adolescência

O Ministério da Educação da Cidade Autónoma de Buenos Aires concedeu um número de bolsas de estudo
(becas, em castelhano)
considerado insuficiente por alunos do secundário, pais e muitos professores. A controvérsia transformou-se em conflito que, longe de ter sido solucionado, se mantém em estado de ebulição.

Esta situação motivou um artigo de opinião, publicado por Abraham Gak no Página 12, sobre a adolescência, a educação escolar média e as relações entre aquelas.

escrito por ai.valhamedeus[sugerido por EduardoLG, Argentina]

2 comentário(s). Ler/reagir:

Algo de música y Tal vez otras cosas disse...

Algumas outras aclarações que podem ajudar:

O conflito se da num governo (o da cidade de Buenos Aires ) de direita.

A cidade de Buenos Aires tem o caracter de Estado (ou Provincias) e administra as escolas do Distrito Federal.

O Chefe de Governo da cidade (o prefeito) é Mauricio Macri, ele foi o presidente do clube Boca Jrs. de futebol e se acha o "Berlusconi" argentino....Na verdade quer ter trascendencia nacional, possível candidato para as eleições de aqui a 3 anos.

Há um artigo muito interesante num suplemento de Rock do jornal sobre as tomas das escolas, e o que sentem alguns dos jovens que participam:


suplemento de Rock do jornal
sobre as tomas das escolas, e o que sentem alguns dos jovens que participam.

Nele podem ler que muitos dos jóvens que participam não são militantes, é a primeira vez que se encontram num processo político.

Outros não, mas uma grande maioria é pessoal sem militancia política.

Isso pode ser algo que acontece noutros países, os partidos políticos na Argentina também estão algo desacreditados, mas não existem outra organizações, ou existem organizações muito pontuais, não há um algo que aglutine.

É interesante o que fala o artigo sobre os objetivos das escolas médias no começo do século XX na Argentina, pensem que era um pais com muitos immigrantes, muitos não falavam espanhol e eram analfabetos.

Desde 1880 existe na Argentina escola laica, obrigatória e gratuita...Embora nos últimos tempos tenha caido muito a qualidade...

Eduardo.

Anónimo disse...

Algo de música y Tal vez otras cosas,

duas coisas me chamaram muito a atenção no seu comentário e no post do Eduardo:

1) BOLSAS PARA O ENSINO SECUNDÁRIO

No Brasil praticamente não existem bolsas para o ensino secundário (só a igreja católica e alguns gatos pingados as outorgam). Elas são mais necessárias nas escolas públicas, onde a esmagadora maioria estuda. PORÉM, existem muitas bolsas para o ensino superior. Muitas delas são injustas, pois já vi alunos de boa posição social requerê-las e até acumularem bolsas de diferentes fontes. A divisão e a origem das mesmas (federal, estadual e municipal) é também questionável.

A maioria esmagadora dos professores do ensino secundário concorda com os de ensino superior num ponto: por quê não destinar a verba preferencialmente ao ensino secundário e, depois, ao superior? Mais importante do que a outorga de bolsas é garantir a infra-estrutura das e nas escolas secundárias, além de aumentar os salários dos professores que trabalham em escolas secundárias. A carga horária média deles é de 44 horas SÓ DE AULAS (sem levar em conta, correções de trabalhos e preparação de aulas). A maioria trabalha para 3 escolas!!!

Eu sabia que a situação era ruim, porém só vi o tamanho da tragédia quando participei de um trabalho comunitário de transferência de tecnologia para duas escolas estaduais. As duas baterias de questionários fizeram TODO O GRUPO UNIVERSITÁRIO chorar convulsivamente. Os questionários eram anônimos, para que as pessoas não se intimidassem. Uma professora de 27 anos respondeu à pergunta "Quais são seus planos e/ou sonhos para o futuro?" com esta frase: "Eu não sei se terei um futuro onde caibam sonhos."

É horrível ser um professor universitário que ministra aulas para alunos de primeiro ano de qualquer área... As deficiências dos alunos são monumentais.

No caso do Brasil, o dinheiro existe (tivemos um superávit de 200 bilhões de dólares) e há mecanismos para conseguir mais. Os problemas são:

1.1 QUEM VAI OUTORGAR A VERBA, PARA QUAIS AS INSTITUIÇÕES DEVEM RECEBÊ-LA E POR QUÊ?

1.2 QUEM VAI VERIFICAR A CONTRAPARTIDA (merecimento; se você dá uma soma em dinheiro, quem recebe deve prestar contas; assim, previne-se injustiças)? e

1.3 COMO GARANTIR QUE A VERBA CHEGUE A QUEM PRECISA?

Bom, este resumo do estado das coisas, já mostra que a tendência ao descrédito em instituições não é resultado de alienação, mas de uma mistura de impotência com revolta.

2) A FALTA DE MILITÂNCIA POLÍTICA

Pelo que foi dito acima, conclui-se algumas coisas (que não são fenômenos apenas brasileiros): quem vai acreditar num militante político?

Os "adultos" de todos os segmentos etários estão cheios de cicatrizes de eleições, governos e promessas não cumpridas... O PCB (partido comunista brasileiro) veicula um comercial onde diz que luta para que obtenhamos os mesmos benefícios obtidos pelos trabalhadores bolivianos e venezuelanos!!! Minha mãe só tem o ensino primário e disse: "Este cara não vê TV? Não lê jornais? Ele deve viver em Marte."

Os "jovens" (no grupo de estudantes secundários, deve-se e precisa-se incluir os adultos que resolvem concluir/continuar seus estudos; estes geralmente são bem mais carentes do que os adolescentes) perguntam sobre política, religião, mercado de trabalho e etc., mas o que se deve ou pode responder?

Não sei a idade de vocês, mas eu ouço estas perguntas toda a vez que estou em sala de aula (sou experiente, mas não o suficiente para merecer o termo "meia-idade", nem satisfaço às definições cronológicas para tal). Como professora universitária, já vi vários alunos adolescentes com crise existencial. Se eu não consigo ME CONVENCER de que alguém ou alguma coisa pode reverter o problema, como responder?

Sabe qual é o nome técnico deste problema que vocês chamam de "distanciamento" ou de "alienação"? É uma expressão tão terrível quanto o seu significado: EXCLUSÃO EXISTENCIAL. O indivíduo se sente à deriva e desconetado de tudo/todos. Quem viu o filme "A Laranja Mecânica" (A Clockwork Orange) há de reconhecer algumas semelhanças...

Atualmente, este problema atinge inclusive países ricos (Alemanha e Japão). Só que nestes países a "fome" não é só de comida...

Um abraço e que tenhamos forças para sobreviver ao que está por vir.

Vania Vieira