Na segunda-feira passada, ao sintonizar o programa Sociedade Civil, resolvi fixar-me nele por mor do tema, e ao escutar a voz conhecidíssima e repetente de alguns convidados que integravam o painel. O tema era o Bullying e o Cyber_bullying. Em minha opinião, um problema importado, quiçá, de outras realidades culturais, à força da inundação do mercado com jogos e filmes violentos, em virtude do desamor que se instalou nas sociedades hodiernas, e devido a outros factores potencializados por esta globalização económica, a qual se está igualmente a transformar na globalização da (in) cultura, da aculturação e do psitacismo cultural, como já referiu a Dr.ª Rita Lopes.
Pois aquele painel de doutos especialistas, reconhecendo embora o problema, tinha
(tem)solução para tudo. O programa mostrou o exemplo de uma escola onde as “boas práticas” transformaram o (in) sucesso de apenas 30% em sucesso de se lhe tirar o chapéu, muito embora a escola esteja inserida numa zona economicamente débil
(O Português é meu).E isto em menos de 10 anos. Vá lá, ainda temi que se afirmasse que o resultado era fruto única e exclusivamente da política deste governo.
Ficar-se-ia muito satisfeito e aliviado
(quem terá visto o programa àquela hora e na RTP 2?!)por se viver em tão rosada atmosfera não fora a cereja no bolo estar um pouco azeda: o depoimento de antigos alunos, vítimas de bullying e testemunhas de agressões contra professores, por parte de Encarregados de Educação.
Seguiram-se depoimentos de professores agredidos em 2005 e 2006 e o bolo azedou de vez. Eu digo: Mas são estes professores que estão no terreno; eles é que têm de enfrentar situações impensáveis e achar na cartola, que não possuem, soluções que não passam de paninhos quentes. Um dos agredidos manifestou o seu repúdio perante o castigo morno do agressor: 5 dias de suspensão! Os mesmos dias que o menino tinha apanhado por outros delitos de muito “menor gravidade”, segundo a deponente.
Veio-me então à lembrança o caso da professora, suspensa por três meses, que ainda teve de pagar uma multa, por alegada má relação com os alunos. Eu gosto desta “equidade” na justiça!
Finalmente, apareceu uma psicóloga, habituée no programa, toda ela sorrisos, a dar 95 pontos de satisfação no que às suas (dela) férias dizia respeito e a aconselhar os pais a não “transmitirem ansiedade às suas crianças”
(depois as conclusões dos estudos aplicam-se a todos os níveis etários, admirando-nos todos com a infantilidade cada vez maior dos jovens!...)de molde a prevenir “cenários…”
(aqui hesitou, à procura do termo, no que foi ajudada pela apresentadora que escolheu o adjectivo sombrio. Ao que a outra aquiesceu, deveras satisfeita).Desse cenário sombrio constava uma lista indiscriminada de perguntas que os pais colocariam eventualmente a si próprios:
Será que o meu filho vai gostar da escola?;
Será que o meu filho vai ter uma professora exigente?; etc., etc., etc.
Numa altura em que se fala constantemente em escola de excelência e de exigência!... Estamos conversados. Como diria a minha Avó: “não é preciso pôr mais na carta!”
Mas a mim apetece-me pôr mais na carta: no programa do dia seguinte, onde se discutia a bondade, ou não, traduzida na utilidade, ou não, dos Cursos Tecnológicos, a breve trecho, um dos convidados do painel voltou a referir o grau de exigência e rigor das escolas, depois de ter usado frases como estas: “os alunos estão piores preparados”, e “poderia-se
(até o meu computador reconhece o erro)ter ido mais longe”. E isto porque, segundo afirmou, no tempo dela "fazia-se o exame da 3ª classe"!
escrito por Gabriela Correia, Faro
3 comentário(s). Ler/reagir:
Gabriela:
Já lecionei e acompanhei a elaboração de projetos pedagógicos para cursos plenos e tecnológicos. Infelizmente, estes últimos arruinaram várias gerações de brasileiros e precisam ser investigados sob o ponto de vista legal.
Do fundo do meu coração, não desejo para seu povo o que o meu está sofrendo: estamos crescendo, temos grande demanda no que concerne a trabalho técnico, todavia, os cursos tecnológicos (CTs) não são sequer mencionados em anúncios de emprego. As indústrias em sua grande maioria não sabem o que fazer com eles. Tomo a liberdade de listar alguns itens importantes e ligados a esta questão.
1) O que seu país considera como sendo um CT?
2) É um curso supeior, técnico ou está no "limbo"? Esta pergunta pode soar ridícula, mas aqui no Brasil, num mesmo documento oriundo do Min. da Educação existe uma séria ambivalência: uma parte diz que é e outra diz que não se trata de curso superior. Baseando-se neste documento, AS INSTITUIÇÕES PÚBLICAS NÃO CONTRATAM TECNÓLOGOS e as empresas privadas os tratam como técnicos (cujo salário é menor)
3)Como as matrizes curriculares são menores do que as de cursos plenos, além do fato dos CTs somente satisfazerem demanda imediata, os egressos podem retornar a uma instituição de ensino superior para tornarem-se profissionais plenos?
4) O que foi usado como base para tratá-los legalmente pelo governo português? As normas são lusas ou copiadas de outros países? Há legislação produzida pela comunidade européia?
5) Os projetos pedagógicos são elaborados pelas instituições de ensino ou há diretrizes fundamentais a serem seguidas?
6) Os projetos pedagógicos são elaborados por comitês multidisciplinares? Isto é muito importante, pois há sérias questões éticas e relativas à responsabilidade social dos egressos em jogo. Muitos diplomas são mais perigosos do que porte de arma. Vide minha área, a Eletrônica e Computação...
O melhor modelo e, talvez, o único que funcione direito, é o Alemão. Trabalhei numa universidade tecnológica nos USA. Lá, funciona aos trancos e barrancos. Os CTs geralmente são para as classes menos esclarecidas e que precisam trabalhar imediatamente. O resultado é um corpo discente que pensa ser capaz de competir com seus congêneres plenos, tais como: engenharias, farmácia e biotecnologia.
Seu país pode vir a enfrentar sérios riscos de ter uma péssima mão-de-obra e muitos problemas sociais decorrentes da falta de responsabilidade de quem organizou e/ou instituiu tais cursos.
Grata pela atenção,
Vania Vieira
Minha Muito Prezada Vânia!
É isso aí.
Não posso falar dos cursos, porque felizmente, ainda não me calharam na rifa. E ouvindo as muitas queixas dos colegas que os leccionam (a sala dos profs parece o muro das lamentações)só posso pôr uma velinha a todos os santos para que tal calamidade não se abata sobre a minha cabeça. Bem bonda o que bonda, já dizia a minha Avó. Tudo o que sei é que quando se detectam dificuldades , seja por que motivo for(e eles, os motivos, são dos mais desvairados matizes)rapidamente se encaminha o dito cujo para esses cursos.
Há pais que já perceberam recusando-se a aceitar que o filho/a seja assim discriminado/a, pois os CTS são, segundo eles, "para os burros".
Por conseguinte, e como já várias vozes referiram, também o foi no tal programa de que falei,vai passar-se em Portugal o que se passa no Brasil. E o mesmo se passará com as licenciaturas pós Acordo de Bolonha.
E quem vier atrás que feche a porta, como soi dizer-se.
Gabriela
Não se preocupem com o ensino.
A taxa de sucesso vai aumentando de ano para ano.
(Os alunos vada vez sabem menos, mas isso não é importante)
Este ano houve Conselhos Pedagógicos que decretaram a transição de ano com 5 negativas, sem pestanejarem.
(A ministra aceitou)
Eu só me admira como é que o aumento do sucesso foi tão baixo.
Razão tem sua insolência a senhora Lourdinhas, quando diz:
-O mérito é dos professores. E pasme-se, os sindicatos querem-lhes tirar esse mérito!!!
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