Para não esquecer...

hoje é sábado 4. ASA BRANCA

A simplicidade da música nordestina. A alegria da música nordestina, mesmo quando nostalgicamente canta a solidão e a desgraça. A recordação de Luiz Gonzaga.


escrito por ai.valhamedeus [com um abraço para o Xico K'muna]

2 comentário(s). Ler/reagir:

pn disse...

interessante a conversa alegre das sanfonas, pouco condizente com o rol de desgraças arautadas.

Anónimo disse...

Uma grandes lições que aprendi da/na vida com meus ancestrais nordestinos é que só se consegue sentir grande prazer, quando se obtem o "objeto" de seus sonhos e desejos com muito suor e dificuldade. Nenhum joalheiro exporia um diamante numa vitrine que não contrastasse com o mesmo, não é? Há 2 detalhes sutis nesta música, que a elevam ao patamar de obra-prima:

- Não usa 7 notas musicais, porém 5. Compor com uma palete de 7 já é difícil, imagine reduzindo o número de "cores" disponíveis! Isto é consequencia da falta de dinheiro para comprar um instrumento melhor... ;-)

- Há uma verdade atemporal na letra: é ruim, há mazelas, mas o amor pelas origens (ou por qualquer coisa imperfeita e que pode fazer sofrer) não deixa de existir. A esperança e a fé (às vezes cega e inexplicável) são nossas características típicas.

Ednardo, esquecido devido à ganância das gravadoras, canta como ninguém a "neo-desgraça" nordestina:
"Para lhe aperrear", dele mesmo
http://www.youtube.com/watch?v=LrIvUqDjDM4
"Súplica Cearense", de Luiz Gongaga
http://www.youtube.com/watch?v=6TogiIeyHhY&feature=related

"Pavão Misteriozo", como aparece na abertura da novela-arte "Saramandaia", que provavelmente nunca foi vista fora do Brasil (a música e o enredo tratam de medo: do desconhecido, do conhecido, das estórias e das histórias de cada dia, e como se sobrevive naquele, e neste, mundo, onde meus olhos já adultos contemplam os monstros de forma BEM diferente... a abertura é uma animação muito rústica, feita com a mesma serigrafia usada até hoje pelos escritores de cordel; querida vozinha, que bom que desobedeci você, fingi que dormia e assisti à novela pela fresta da porta de meu quarto! ):
http://www.youtube.com/watch?v=JtZ8VCr4P90&feature=related

O músico paraibano Vital Farias também fez parte da trilha sonora de Saramandaia. Sua obra é um espanto de rica. "Caso Você Case", cantada pela carioca Marília Barbosa é sobre como é difícil ser mulher, viver em família, escolher seu destino e ainda ter que suportar a opinião de todo o mundo no Nordeste. O título faz alusão a uma opção diferente, mas que já não é tão assustadora e incomum quanto no passado para uma mulher: permanecer solteira! Pulem os primeiros 2:17 minutos, a não ser que desejem saber algo sobre a atriz/cantora (o vídeo é peça de colecionador, pois nem videocassete havia naquela época!):
http://www.youtube.com/watch?v=OV_u6lh3AQg

Contudo, o Nordeste não é só tragédia...

Boa parte dos colonos da Amazônia veio do Nordeste. Vital Farias compôs uma "opereta" de uma música só, chamada "Saga da Amazônia", que quando tocada com arranjos clássicos/acadêmicos dá arrepios. Prefiro a enorme versão original, ouvida numa rádio universitária (colocar um CD brasileiro inteiro num site estrangeiro é briga certa ou seu dinheiro de volta; eles sempre pedem para "classificar" a obra... coloco o que geralmente está no álbum, ou seja, um milhão de influências; reclamam e pedem só uma palavra; escolho uma, para depois receber dezenas de "private messages" e posts dizendo que eu estava errada!!!), na falta dela isto é o que mais se aproxima:
http://www.youtube.com/watch?v=2OZrYrNITR0&feature=related

No Brasil, o termo "Dia Branco" ou "Dia de Branco" poder ter uma miríade de significados, tais como sereno, especial no sentido religioso ou ser mais um ordinário dia de trabalho (branco faz alusão a cor de vários tipos de uniformes), por exemplo. Geraldo Azevedo brinca com o termo nesta linda letra, cantada pela Elba Ramalho:
http://www.youtube.com/watch?v=rGmuKpWMBGA

A música abaixo, foi parte de uma das cantadas mais lindas que já recebi em toda a minha vida. O cenário era absurdo: num lab. de física nuclear, eu, recém-formada, passando pelo corredor, cheia de instrumentos de teste nas mãos, todas as bancadas apinhadas de gente e, de repente, outro engenheiro SE AJOELHA com um violão na minha frente, toca e canta a mesma... Sou um ser humano: chorei pela música e pelo gesto. Pelo menos nada caiu no chão, pois estava carregando uma não tão pequena fortuna nas mãos... Meu noivo, na época, disse que só não o mataria, porque eu lhe contei o acontecido imediatamente.
"Dona de minha cabeça", Geraldo Azevedo (a versão possui um corte abrupto, mas dá para ouvir a letra):
http://www.youtube.com/watch?v=ZC_M0vckSfI&feature=related

Luiz Gonzaga também tirou o hábito nordestino de usar propositalmente cacófagos do armário, com o "Pagode Russo" (vide a música e a letra abaixo para provar que a música é "família").
http://www.youtube.com/watch?v=vAxp-YtnFRo&feature=related

Ontem eu sonhei que estava em Moscou
Dançando pagode russo na boate Cossacou (bis)
Parecia até um frevo naquele cai e não cai
Parecia até um frevo naquele vai e não vai (bis)
Vem cá cossaco, cossaco dança agora
Na dança do cossaco, não fica cossaco fora (bis)

A única dança típica de meu país -- dentre muito mais de 500 gêneros ;-( --- que aprendi na vida, foi o forró das quadrilhas de São João, São Pedro e Santo Antônio, o qual em nada se parece com as cerimônias portuguesas que lhes deram origem. Ah, "Quadrilha" vem do francês "Quadrille" e foi criada quando os habitantes do Brasil decidiram imitar os bailes da corte portuguesa. Quem não tem cão, caça com gato, rato, whatever. Esta frase faz mais sentido do o "Ordem e Progresso" existente em nossa bandeira.... Aliás, o termo "forró" vem de um cartaz que os comerciantes ingleses colocavam nos lugares onde os brasileiros podiam entrar: FOR ALL; Como os "brasileiros de antanho" mal falavam o português direito, de "for all" para forró foi um pulo. Muitos ingleses gostaram mais dos bailes "for all" e ficaram por aqui mesmo. Eu sou suspeita, porém acho que ficou melhor (e mais animado) do que o original:
http://rjtv.globo.com/Jornalismo/RJTV/0,,MUL604194-9107-119,00-SEGREDOS+DAS+QUADRILHAS+DAS+FESTAS+JUNINAS.html

Nasci na Tijuca, que na época de D.João era propriedade real. Minhas amigas de secundário juravam que eu devo ter realmente vivido naquela época em outra vida, pois delirava na Quinta da Boa Vista e no Jardim Botânico do Rio, descrevendo a entrada das carruagens, as roupas das mulheres e homens, além de andar como se estivesse num espartilho e com aquelas saias enormes.

Um abraço,
V. Vieira