Para não esquecer...

CONSULTORES

É por ser da treta, que a "Autoridade para a Comunicação Social" ainda não investigou o caderno de "Economia" do Expresso, que de alguns anos a esta parte se transformou em veículo quase exclusivo de publicidade nojenta
(mal)
disfarçada.

Na página 28 da edição de 6 de Dezembro, faz o Expresso, pela pluma do seu escriba
("jornalista"!!!)
João Ramos, a promoção de uma organização tenebrosa e do catalão com aspecto patibular que a comanda: trata-se, em língua bárbara, do "Accenture Public Service Operating Group", que vertido em português se chama qualquer coisa como "Grupo Operacional Accenture para a Administração Pública".

Que coisa é esta? Pois trata-se, nem mais nem menos, de uma das divisões "operacionais" da herdeira da famigerada Arthur Andersen, braço armado da Enron na façanha de mistificação dos pequenos investidores e vítima da enxurrada de esterco que afogou ambas. Dedica-se esta coisa a vender às administrações públicas soluções para toda a espécie de males que real ou supostamente as afligem, não sendo de excluir a hipótese de ter sido quem pariu o tal de "sistema" de avaliação dos professores.

A partir de Nice, e pela pena do escriba – cuja honestidade fica sem mácula ao explicar
(em letras pequeninas)
que "viajou a convite da Accenture" – diz-nos esta que "Portugal deve ter plano estratégico", desenhado à volta de "controlos biométricos", "redes colaborativas [sic] massificadas", "videovigilância" e "grelhas inteligentes".

Interroga-se este cromo se deve Portugal converter-se "num hub de distribuição mundial", ou "num hub de talento", ou se deve apostar "na indústria de cultura". Rigoroso e sincero, "admite custos sociais por haver pessoas não reconvertiveis por questões de idade e de habilitações". Defende que haja "mais rapidez, eficiência e alinhamento com as necessidades dos clientes".

Guru de pacotilha, prevê que "os gastos com segurança vão aumentar" e que o actual contexto "provoque mudanças e fusões nas organizações não governamentais (ONG) sem fins lucrativos", salientando que "há ONG que são geridas como verdadeiras multinacionais e outras pequenas com défices de profissionalismo". Termina declarando doutoralmente que as administrações públicas "deveriam ajudar as ONG a rever estas situações e a facilitar os diálogos".

O volume de recursos públicos que titulares de cargos também públicos transferem anualmente para esta coisa ronda, segundo ela própria, 3 biliões de euros. O esquema, ainda que esfarrapado, continua a funcionar em grande:
  • o "consultor" sugere o "conceito" ao titular de cargo público, constituído por insanidades, vacuidades e destemperos como os acima referidos "redes colaborativas massificadas", "grelhas inteligentes" e "hubs de talento", condimentado com os chavões do momento - "controlos biométricos", "videovigilância", "mais rapidez, eficiência e alinhamento com as necessidades dos clientes" – e justificado por asserções que é cada vez mais perigoso contestar, do género "os gastos com segurança vão aumentar";

  • não vá o morcão lançar-se em elucubrações de sua lavra, o "consultor" ataranta-o com um ou dois arrotos totalmente fora do contexto "...mudanças e fusões nas organizações não governamentais (ONG) sem fins lucrativos", "há ONG que são geridas como verdadeiras multinacionais e outras pequenas com défices de profissionalismo" e uma opinião hermética: "as administrações públicas deveriam ajudar as ONG a rever estas situações e a facilitar os diálogos".
Neta fase do campeonato o morcão desonesto – que por um lado não quer dar parte de tonto e por outro sabe que o "consultor" está muito bem relacionado
(principalmente no seio da "sociedade civil", em que é tão útil ter portas abertas quando os mandatos findam),
pois nesta fase do campeonato o morcão começa a ver-se autor e actor reputado de uma inteligente iniciativa de alta política, a que a colaboração
(interessada)
do "consultor" garantirá o sucesso.

Está feito o cambalacho, com ou sem concurso público. Se as directivas comunitárias impuserem concurso, não é difícil a quem concebeu o objecto do dito apresentar a melhor proposta. Se tal não for o caso, o ajuste directo será fácil de justificar.

No actual contexto, até é bem feito: estes esquemas desenvolvem-se e proliferam principalmente por culpa dos professores, que não ensinam a tabuada aos putos, nem os dotam com espírito crítico.

escrito por Ya Allah

3 comentário(s). Ler/reagir:

Anónimo disse...

Bem vindo ao clube, YA ALLAH.

Na mouche. E isso que em Portugal ainda só aconselham a dar miminhos aos bancos. Nos States já incluiram a indústia automotriz. Podem continuar a produzir máquinas de oito cilindros sem que se afectem as suas contas bancárias. E a gasolina? Bem, obrigado!

Anónimo disse...

Está desatento, caro anónimo! Assisti há dias à cerimónia do anúncio do package português de "apoio à industria automóvel", com os desavergonhados todos a sacarem das monblanques - http://www.agenciafinanceira.iol.pt/noticia.php?id=1019812&div_id=3852

Foi girissimo assitir à intervenção do alemão com aspecto de inglês bêbado que administra a autoeuropa, encavacadissimo (salvo seja!) porque não pode negar-se ao frete, mas que lá foi dizendo que se ninguém comprar os carros que vai produzir com as ajudas a coisa está codilhada...

Contrastando o pessimismo boche, a presidenta da associação dos não sei quantos automóveis (as industrias mixurucas que fabricam peças de merda para a autoeuropa sempre com o credo na boca à espera da mudança para produto chinês), pois essa estava radiante, bem à portuguesa: o socrates dá-lhes dinheiro para produzirem peças, a autoeuropa terá que lhes pagar as peças que produzem... mas sobretudo ficam com tempo e espaço para na próxima diarreia já estarem com a peida a salvo...

Seita de prevaricadores...!!!

jcosta disse...

Finalmente alguém das arábias e, a avaliar pelo nome, próximo de Maomé [já era tempo do "Aijesus" enveredar pelo contraditório simbólico], para nos ajudar a descodificar alguns mistérios que a nossa "cultura" [ainda] não comporta. Com uma saudação para
Ya Allah, proponho-lhe o primeiro desafio, já que me parece versado em finanças, economia, petróleo e, se me permite, em terrorismo. Mesmo que não se note, ou pelo nome, ou pelo aspecto, pessoal assim, mesmo que não seja, há-de ser terrorista! Então, aqui vai o desafio que pode ser esgrimido em forma de comnetário:

Segundo o «Jornal de Negócios», para o Ministério das Finanças português, o cargo ocupado por Vítor Constâncio vale uma remuneração anual de perto de 250 mil euros por ano, cerca de 18 vezes o rendimento nacional «per capita».

Já para a Administração norte-americana, o lugar ocupado por Ben Bernanke justifica apenas 140 mil euros anuais, ou seja, 4,2 vezes o rendimento «per capita» dos EUA.