António Gedeão, no seu “Dia de Natal”, bem avisava que esse era “o dia de ser bom” e na parafernália do consumo, entre loas ao Menino, lá estavam os detergentes e a hora de qualquer meridiano, marcada pelo último grito de relógios, feitos para espartilhar o tempo até ao segundo. Luxúria e volúpia seduzem quem passa por montras em festa mas, António Gedeão não esqueceu a criançada e, no sapatinho – que o mundo está perigoso – lá “colocou” a metralhadora, porque Natal é quando um homem quiser e a guerra também!
A Câmara de Porto de Mós, atenta ao efeito do “Cerco” da MMoreira, e à vida fácil que os professores cada vez mais experimentam nas escolas, mesmo nas mais “piquenas”, resolveu parafrasear António Gedeão e entregar às crianças do primeiro ciclo, pois, pistolas de plástico. Provavelmente, para o ano, irão oferecer-lhes um GPS com os pontos nevrálgicos onde podem usar o brinquedo: bancos, escolas, bombas de combustível e tantos outros sítios onde ainda se ganhem a vida como antigamente: a trabalhar. Gostei!
[Jerónimo Costa]
Porto de Mós 31-12-2008
Câmara oferece pistolas de plástico a alunos do primeiro ciclo
Texto de Carlos S. Almeida
Uma pistola de plástico. Este foi o presente de Natal da Câmara de Porto de Mós a alguns alunos do primeiro ciclo do concelho. No início de Dezembro, a autarquia ofereceu uma ida ao circo, complementada com um pequeno presente. Entre os brindes entregues às crianças estavam pistolas de plástico, usuais nas brincadeiras de Carnaval.
O caso não agradou a alguns encarregados de educação. Célia Sousa, presidente da associação de pais da escola e jardim-de-infância do Juncal, e deputada municipal do PS, considera que este não é o brinquedo mais “correcto” para uma entidade pública oferecer. “Não é nenhum drama, mas entendo que a oferta de brinquedos deste tipo deve ser da esfera privada”, considera. O problema, entende, “é ser uma entidade pública a oferecê-la”. Aliás, confessa que num primeiro momento desvalorizou o facto. O seu filho foi contemplado com uma dessas pistolas mas o drama foi mesmo a pistola não funcionar, para desgosto da criança. Posteriormente, foi abordada por uma encarregada de educação que a alertou para a natureza do presente natalício. O marido, Luís Malhó, presidente da Assembleia Municipal de Porto de Mós, eleito pelo PSD, considera que se trata de “uma prenda de mau gosto”, entendendo que faria mais sentido “presentear as crianças com outros brinquedos”. Ainda assim, faz questão de frisar a necessidade de relativizar a questão, visando evitar que se entre em “histerias colectivas”. E não se furta a brincar com a fraca qualidade do presente: “era uma arma de plástico que nem sequer funcionava”.
Helena Arcanjo, coordenadora do primeiro ciclo do Sindicato de Professores da Região Centro, entende que o caso é sério. “É lamentável que um município tenha tido a infeliz ideia de escolher um brinquedo que embora faça as delícias dos rapazes, leve a brincadeiras com indícios de violência”, refere. Para esta responsável, a autarquia deveria ter escolhido um brinquedo com funções didácticas. Perante a falta de recursos que atingem as escolas, faria sentido oferecer brinquedos que pudessem ser um auxílio nas actividades de enriquecimento curricular. Afinal, “é nestas idades que se desenvolvem comportamentos de bullying, devendo ser as entidades públicas a dar o primeiro exemplo”, reforça.
Já o Agrupamento de Escolas de Porto de Mós escusa-se a comentar o caso. Fonte do conselho executivo daquela entidade adiantou desconhecer a natureza dos presentes entregues às crianças, adiantando não ter recebido qualquer queixa.
Presente pouco natalício. Uma arma em plena festa religiosa? Para Isidro Alberto, pároco de Porto de Mós, esta é uma medida “anti-pedagógica”. É, entende, “levar as crianças a praticar violência simbolicamente”. O religioso soube pelo REGIÃO DE LEIRIA a natureza dos brinquedos oferecidos e adiantou que “se Cristo trouxe a paz entre os homens para que vivam pacificamente, usar armas que simbolizam a guerra e a violência é anti-natalício e desumano”.
Responsável pela pasta da Educação na Câmara de Porto de Mós, o vereador Rui Neves confrontado com o caso limita-se a adiantar: “não comento”. Adiantando que instituições de vários concelhos da região também ofereceram presentes semelhantes provenientes da mesma fonte – os brinquedos foram o resultado da compra de produtos de uma empresa que faliu – recusa qualquer declaração suplementar sobre o caso.
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