Para não esquecer...

hoje é sábado 25. SE FOSSE NO SÉC. XIX

Se fosse no séc. XIX
diria dos teus lábios que são mel.
Mas hoje quase nada nos comove
e é ridículo falar da pele.

Assim escrevo os poemas e fraquejo
temendo uma imagem duvidosa.
Nem métrica nem rima: só a prosa
me é dada pra dizer que te desejo.

E temo sobre tudo a impressiva
metáfora, a hipérbole, o efeito,
a frase rebuscada e excessiva

do tipo “a água, o lume incandescente”.
Escrever com emoção é um defeito
e amar-te, meu amor, é estar doente.
[José Carlos Barros]

escrito por Carlos M. E. Lopes

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Anónimo disse...

Parabéns!Belo Poema!

O AMOR
O amor é um rastilho aceso por dentro dos ferros
De púrpura dos meses
O amor é um pano inconsútil pendurado nos arames dos pátios
O amor é uma lenta transmudação da água nos incêndios
O amor é uma âncora dividia entre o peso do lodo e
A leveza insustentável das alavancas hidráulicas
O amor percorre os labirintos de creta sem nenhum fio pretérito
O amor quima por dentro dos pulmões quando
Se respira junto às falésias de calcário
O amor é uma pedra e outra pedra escondida
Nas gaivas oscilatórias dos sismos
O amor é um vórtice onde se misturam palavras e buracos negros
O amor é uma árvore com as raízes atadas à nuvem das lágrimas
O amor é uma onda que precede o desmoronamento das
Cabeceiras declivosas das penínsulas
O amor é uma molécula da água a transformar-se em éter
O amor é a fórmula de heisenberg
O amor é um mapa em que o momento e a posição não coincidem
O amor é a pele incandescente
O amor é uma Puta
O amor é um arco que dispara em círculo
Contra o desprotegido coração.
(José Carlos Barros)

Bea disse...

Lindo!