Hoje é o Dia do Pai!
Mais um daqueles dias que se instituíram para lembrar elementos esquecidos e tão importantes do tecido social, como seria o caso da mulher? Ou para fazer lembrar o papel do Pai na educação dos filhos, tão arredios que andariam, entregues ao absorvente e diário ganha-pão? Não sei. Nem tão pouco sei quem teve, pela vez primeira, esta peregrina ideia. Mas eles aí estão, os dias disto e daquilo. Para o bem e para o mal. Sim, porque nesta sociedade complexa há muitas crianças que não têm pai, pelo menos presente, por razões diversas que não vêm ao caso, e que se sentem diminuídas face ao júbilo demonstrado pelos demais posto nas prendas e presentes para os pais (o comércio agradece); júbilo, que por ser genuíno, pode ferir ainda mais os que padecem de ausências paternais. Mas será sempre assim. A injustiça é cega.
Já para não referir também aqueles que desejaram ser pais e nunca tiveram esse privilégio. Repito, a injustiça é cega.
Quero sim homenagear aqui o meu Pai, apesar de velho, e pior que tudo, incapacitado.
E igualmente o pai do escritor angolano Ondjaki que tinha tempo para se sentar com o seu filho pequeno a matabichar junto à janela aberta para a rua. É o que diz o escritor no livro “Os da Minha Rua”, um livro de estórias simples, cheias de … vida. Uma narrativa supina, com termos e “palavras de dizer” ditas de maneira terna, ditas com o coração. Num tempo apressado em que poucos tomam as refeições em conjunto, ou sequer as tomam em casa (quantos não são os alunos que me pedem para esperar, a fim de acabarem o pequeno-almoço comprado no bar da Escola!) esta disponibilidade merece ser referida, na minha opinião. E realçada.
Então, a minha vénia ao pai do Ondjaki e a todos os Ondjakis que não se esqueceram desses momentos de ternura e intimidade. Com o pai. E se também forem pais, uma dupla vénia!
Ternuras Aconchegadasescrito por Gabriela Correia, Faro
Dez reis de gente
E de excitação
Estende a mão
Para o balão.
Em urgência,
Com veemência.
Numa exigência!
A pouca altura
Não serve o gesto
Deste dez reis de gente
A crescer para o balão.
Alcança-lho
A mão paterna,
Forte e serena.
Fica contente,
Não quer mais nada.
Que a pequenada
Encerra o sonho
No abandono
De um balão
(Gabriela Correia, Rimas Para a Infância. Faro, Maio de 2001)
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