Para não esquecer...

EM BARCELOS OS CROCODILOS VOAM

Este é o título de uma crónica de Helena Matos, na edição impressa do Público de hoje. Nela, a jornalista, a propósito da constituição de uma  turma exclusivamente para ciganos, aborda a questão: poder-se-á recusar a constituição de turmas de crianças chinesas, cabo-verdianas, indianas, ucranianas ou flavienses?
Só não sei se voam baixinho, à semelhança do que acontecia na anedota protagonizada pelo filho do agente do KGB que dá título a esta crónica. Mas é óbvio que continuam a voar, como bem se percebeu esta mesma semana em Portugal, quando a existência de uma turma exclusivamente para ciganos passou a ser "um caso intermédio de integração" e não uma prova de racismo.
Os crocodilos voadores agora já não nascem à sombra do terror inspirado por uma polícia, como era o KGB, mas sim na incubadora do politicamente correcto. E no argumentário deste último o racismo é um dos termos preferidos, não só porque acusar alguém de racismo implica mais ou menos torná-lo pestilento mas também porque, sob o pretexto do combate ao racismo, se multiplicam e sustentam associações, programas, projectos, parcerias e actividades cuja utilidade e objectivos ninguém questiona não venha de lá a acusação do nefando racismo.
A turma para ciganos de Barcelos nasceu no berço das políticas multiculturais, logo deixou de ser racismo e passou à qualidade de "caso intermédio de integração" no dizer da responsável pelo Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural (ACIDI), Rosário Farmhouse. Em primeiro lugar, não se percebe a que título surge este comissariado nesta questão. São estes ciganos por acaso imigrantes? Nenhum deles se disse estrangeiro (muito francamente, o único sinal de imigração visível neste caso é o apelido da própria alta-comissária), donde, logo à partida, cabe perguntar se não será uma forma de excluir os ciganos fazer uma instituição como o perfil do ACIDI intervir nesta matéria?
Passando para a turma propriamente dita, parece-me óbvio que todas as escolas deviam poder organizar-se da forma que lhes parecesse mais adequada. É também inquestionável que opções como as turmas de repetentes ou de alunos com dificuldades especiais que resultam num lado podem falhar noutro. Donde a existência de uma ou mais turmas com alunos que têm capacidades excepcionais ou problemas de aprendizagem me parecer que deve ficar ao critérios das escolas e das famílias das respectivas crianças. O que já me custa a aceitar é que todas as crianças ciganas daquela escola, apesar de terem idades diversíssimas, apresentem um padrão comum de dificuldades, padrão esse que, pelos vistos, mais criança alguma daquela escola partilha. Esta opaca coincidência remete para um problema que não propriamente por boas razões temos evitado discutir: em que medida é que muitas das iniciativas nascidas ao abrigo de programas certamente muito bem intencionados e com designações poéticas como "Escolhas" não acabam a impedir os ciganos de fazerem exactamente escolhas como todos os outros portugueses? E de serem tratados como adultos. Por exemplo, um não-cigano com 19 anos que não saiba ler seria alfabetizado de igual modo? Ou seja, acabaria numa escola primária, sentadinho ao lado de crianças pequenas?
Muitos destes programas ditos de combate ao racismo funcionam em circuito completamente fechado. Quem os promove justifica as suas políticas e os seus cargos fazendo sucessivos alertas em colóquios vários por eles mesmos organizados sobre o problema que supostamente deviam ajudar a resolver mas que invariavelmente se está sempre a agravar. E que, garantem, se agravará ainda mais caso o programa não seja dotado com mais meios e mais técnicos. Avaliação externa não existe, nem sobre os resultados nem sequer sobre algumas opções orçamentais. Por exemplo, uma breve consulta no portal que dá conta dos Ajustes Directos da Administração Pública mostra que entre Setembro de 2008 e Março de 2009 os responsáveis do Escolhas - Programa de Prevenção da Criminalidade e Inserção dos Jovens dos Bairros mais Vulneráveis afectaram nada mais nada menos do que 146 mil euros à produção e distribuição duma revista que é pura propaganda ao programa e a quem o promove. Os "Jovens dos Bairros mais Vulneráveis" precisam deste tipo de revista? Duvido, mas tenho a certeza de que a dita revista ajudará a construir uma imagem positiva do programa e dos seus responsáveis junto dos leitores do PÚBLICO e da Visão, onde a mesma revista é encartada. E, sobretudo, duvido de que uma criança cigana ou qualquer outra que fique sob a tutela destes programas e ao abrigo da agora tão incensada mediação cultural consiga ser tratada individualmente como as outras crianças e não apenas como mais um membro da "comunidade problemática" e "habitante do bairro vulnerável". Por exemplo, quais são as hipóteses de um cigano chegado a estas escolas não frequentar necessariamente estas turmas acordadas com a "matriarca da comunidade cigana"? Ou, uma vez lá colocado, conseguir mudar de turma?
Por outro lado, se as famílias ciganas podem decidir que os seus filhos frequentam uma turma constituída exclusivamente por crianças ciganas, os pais não-ciganos podem decidir o mesmo para os seus filhos? Por exemplo, chineses, cabo-verdianos, indianos, ucranianos, albicastrenses ou flavienses podem também acordar a constituição de turmas exclusivas para os seus filhos? Os ucranianos têm fortíssimas razões para querer turmas unicamente constituídas por ucranianos: as crianças ucranianas são inegavelmente melhores alunas que as outras, trabalham muito mais e as suas tradições nada têm a ver com as portuguesas. Seria isto racismo ou "um caso intermédio de integração"? Depende. Se os ucranianos se colocarem sob a tutela da DREN, das pastorais da Igreja Católica, mais dum comissariado qualquer e do SOS Racismo, será certamente "um caso intermédio de integração". Provavelmente os seus filhos deixariam também de ser bons alunos. Fazendo votos para que tal jamais aconteça, só me resta constatar que os crocodilos não só voam como voam para onde o medo empurra o vento.
escrito por ai.valhamedeus

1 comentário(s). Ler/reagir:

Anónimo disse...

Há muito que os crocodilos voam baixinho...
Tudo muito esquisito.
E isto é feito pelos defensores da escola inclusiva.

Claro que para se lavarem vão chamar-lhe uma experiência qualquer, o nome mais adequado será piloto, para armarem em inovadores.
Quando era miúdo já eu tinha um cão negro como um tição e que dava pelo nome de "piloto".

E que nome darão à mistura de alunos de 6 anos com alunos de 19?

Quanto aos contentores, pois já sabemos que os defensores do indefensável lhe vão chamar "monoblocos" ou outra coisa parecida.

E assim vai este ministério e a inefável e trauliteira "chefa" da DREN.

E assim se promove o ensino particular, tal como acontece com a saúde, que o que está a dar é o Sistema de Saúde Privado.

Se estes socialistas continuarem por mais tempo ainda hei-de assistir à privatização da Justiça.

Pois quanto à Segurança, as estatísticas dizem que já há mais seguranças privados que polícias,
tipicamente índices de país terceiro mundista.

Amanhã teremos uma turma de repetentes...
ah desculpem ... já não repetentes...
Outra de chineses
Mais uma de rodriguinhos...