“São mais do que as que há
As coisas que não há”
[RUY BELO, in Todos os Poemas – Tomo III]
O meu país não é de Abril
Nem das águas de Março afogando os campos.
O meu país não é de Agosto
Não tem luar nem sol nem vinho mosto.
O meu país não vai à escola à aventura
Não vai de porta em porta
Trazendo à tiracolo o sonho a boa nova.
O meu país não tem searas loiras loucas
Ondulando ao sabor das horas mortas.
O meu país tem corvos negros à espera do festim
Dos grãos amadurados por dois braços fortes e honestos
O meu país adormece no engano ledo e cego
Da roda da fortuna cavalgando o medo
O meu país não antevê futuro
Vive o presente a toda a pressa
Devora fast food, efeitos especiais
Pipocas derretendo na boca a bocejar de tédio.
O meu país já não tem pardais
Conversas lentas à noite nos umbrais.
O meu país tem sede, tem fome mas arrota satisfeito
Enche o peito de gases dos escapes
Em bichas modorrentas de fadiga.
O meu país é só geografia.
O meu país é xérox da Europa
Dos eurodeputados em slogans de cartazes
Cheirando a mofo.
E é o meu país não tenho outro.
escrito por Gabriela Correia, Faro
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