Para não esquecer...

A DELICADEZA DO LOBO

MANUEL ANTÓNIO PINA

Dr. Jekylle Mr. Hyde
JN, 2009-09-03
Depois da entrevista do primeiro-ministro à RTP e das declarações à imprensa em que a ministra da Educação se tem desdobrado nos últimos (longe vá o agoiro) tempos, os professores ficaram a saber com o que podem contar num próximo eventual mandato de Maria de Lurdes Rodrigues: talvez um pouco mais de "delicadeza", provavelmente até preliminares, vaselina e outras boas práticas, mas a mesma virilidade por assim dizer reformista, ou "guerra", como a ministra diz.

Um fenómeno interessante das campanhas eleitorais é que elas facultam aos eleitores descobrir o afável e confiável Dr. Jekyll que se esconde afinal atrás de cada Mr. Hyde. No momento de prestarem contas ao chamado "país" e de tentarem reconquistar a sua confiança, os políticos fazem todos como aquele "mauvais sujet repenti" de Brassens, arrepiando caminho pela via dos melhores propósitos. É assim que a ministra parece agora mais uma vítima de erros seus, má fortuna, amor ardente do que o provável algoz de uma nova maioria de Sócrates. Como nos velhos filmes mudos, "à mercredi prochain" (que é como quem diz até que a campanha termine).

MANUEL POPPE

Falar ou estar calado
JN, 6 de Setembro de 2009

1. Arundhati Roy, um dos nomes mais conhecidos da literatura indiana contemporânea, explicou a intervenção social: "era óbvio que ficar calada seria o mesmo que falar: uma escolha política". Nos meados do século passado, o conflito entre a arte-pela-arte e a arte empenhada agitou os intelectuais. Não creio que se resolva alguma vez. Desconfio mesmo que a arte-pela-arte não existe. Realmente, como pode o artista ignorar as injustiças sociais? Aqui, por exemplo, e agora: será legítimo e honesto esquecer o drama social que abala o Estado? O Estado somos nós - não é uma empresa como a do sr. Fulano, que considera e reconsidera ou não abrir falência. Há quem fale dos perigos de um Estado mínimo, despojado, diminuído, incapaz de garantir direitos fundamentais: a saúde, o ensino, a assistência social - em suma: há quem tema o advento de um Estado associal e apenas formalmente democrático, pois, à democracia, se substituirá a plutocracia.

2. Eis a meta dos novos liberais e dos neoconservadores, à qual não assiste nenhuma ética. A desmontagem sistemática do Estado; a privatização e domínio de tudo quanto rende; o controlo da economia - em suma: essa luta monopolizadora e canibalesca é imoral? Isso não os preocupa - e nem hesitam em afirmar que política e moral são coisas completamente distintas. Enganam-se: a imoralidade que praticam revela a sua (deles) imoralidade. A política é essencialmente uma escolha ética. E nenhum intelectual que se respeite pode ficar indiferente à destruição do Estado social - de um Estado que disponha de meios para responder à tragédia (crise) em que nos meteu o neoliberalismo selvagem.
escrito por Jerónimo Costa

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